“Porque o Reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder” (1 Co
4.20)
O apóstolo Paulo deixa claro para os
irmãos em Corinto o valor imenso do Reino de Deus na vida da Igreja, do Corpo
de Cristo, no seu testemunho ao mundo. O
Reino de Deus não consiste em palavra humana, mas no poder (δυναμις)[1]de Deus. O
Reino de Deus tem um poder transformador inerente. Sabemos que o conceito de
Reino de Deus é o “domínio de Deus no
coração do homem”. Este conceito é clássico. O apóstolo Paulo declara que o
Reino de Deus “não é comida nem bebida,
mas justiça e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Tanto na defesa
do seu apostolado em Corinto, quanto em orientar os irmãos em Roma a não julgarem
os seus irmãos mais fracos por cauda do comer e do beber, Paulo enfatiza a
relevância do Reino na contramão de valores meramente humanos. Há poder no
Reino de Deus. Esse poder traz justiça, alegria e paz no Espírito Santo. Não é
a justiça humana como padrão de julgamento, mas a justiça de Deus. A justiça
humana é legalista, mas a justiça divina é graciosa com base no Seu amor e na
Sua severidade. A nossa justiça é a do Deus gracioso que nos alcançou em Cristo
Jesus, mediante a fé como um dom dado por Ele(Ef 2.8-10; Rm 5.1,2).
Fomos
transformados pelo poder de Deus na vida do Seu Reino em Cristo Jesus. Esse
poder nos leva ao arrependimento e à fé no evangelho (Mc 1.15). A chegada do
Reino de Deus é a garantia de vidas transformadas pelo Seu poder. Não é a
palavra humana que salva, mas a Palavra de Deus, cheia de poder (Hb 4.12). As
Escrituras foram inspiradas pelo Espírito Santo para mudar radicalmente os que
creem. Nicodemos ouviu de Jesus que o novo nascimento só ocorre mediante a
experiência com a Palavra e com o Espírito Santo (João 3.1-8). A mudança do
coração, da vida, vem pela fé na suficiência de Cristo, Aquele que veio pela
manifestação do Reino de Deus. Esta é a mensagem central do Reino de Deus.
Quando uma
pessoa é transformada pelo poder do Reino de Deus ela tem justiça, paz e
alegria no Espírito Santo. Esses três substantivos estão na Pessoa de Cristo. A
Sua justiça é a nossa justiça; a paz e a alegria ou o contentamento que inundam
a nossa alma vêm dEle, que deu a Sua vida por nós. Uma pessoa transformada vive
a realidade do Reino de Deus. Esta realidade é espiritual com todas as suas
implicações físicas, emocionais e éticas ou morais. A igreja faz parte do Reino
de Deus. Ele é espiritual e invisível, mas age com grande poder neste mundo. O
Reino de Deus está em todo o lugar e nada escapa ao Seu domínio. Somos súditos
nesse Reino de justiça, paz e alegria. Somos um povo que tem direção e
esperança. Sob o Reino, nossas vidas estão plenamente alinhadas e seguras.
Damos graças
a Deus pelo Seu Reino de amor e poder! Louvamos a Deus pela implantação do Seu
Reino não “por meio de manobras
políticas bem-sucedidas, capazes de remover os poderes dominadores e
substituí-los por governantes que executem fielmente a justiça de Deus. O meio
pelo qual aconteceu foi uma derrota humilhante, ainda que, no momento da
ressurreição, essa derrota se revelasse a algumas testemunhas escolhidas como a
vitória decisiva do Reino de Deus. Ele reina de sobre o madeiro. Assim, como
diz o apóstolo, os principados e potestades foram desmascarados. Eles foram
desarmados, porém não foram destruídos. Eles ainda existem e têm uma função, a
qual exercem por autorização e, portanto, é limitada pela justiça de Deus
manifestada em Jesus”[2]
Fomos
alcançados pelo poder do Reino de Deus na Pessoa e Obra de Cristo. Agora, temos
a nossa cosmovisão transformada pela vida de Cristo em nós. Possuímos a
cosmovisão cristocêntrica. Devemos viver em constante serviço no contexto da
nossa mutualidade cristã e no mundo (Mt 5.13-16). A nossa experiência com o
Reino deve ser semelhante à do profeta Isaias quando foi chamado pelo Senhor do
Reino para ser o profeta messiânico(6.1-8). Ele teve a visão da Majestade de
Deus; a visão de si mesmo em deplorável condição pecaminosa; a percepçãoda
realidade pecaminosa do povo; o desafio da parte de Deus em proclamar o Reino a
esse povo; e a sua disposição em testemunhar a Grandeza e Majestade do Rei e a
Sua salvação. O “eis-me aqui” do
profeta Isaias deve sempre nos remeter à condição de súditos do Rei no Seu
Reino eterno, a nossa disponibilidade de pregar o todo evangelho, ao homem
todo, a todo homem e em todo o mundo
até que Cristo volte.
Sim, transformados pelo poder do Reino de Deus
para sermos agentes transformadores desta sociedade narcisista, hedonista e
consumista. Somos desafiados a todo o instante a quebrar paradigmas. Chamados
ao serviço amoroso e solidário num mundo preconceituoso e miserável. Ordenados
a sermos fecundos numa sociedade estéril. A sermos um oásis no deserto. Chamados
para uma revolução poderosa e silenciosa sob a égide do Reino de Deus.
Transformados pelo poder do Reino de Deus não transformaremos a Grande Comissão
na Grande Omissão (Mt 28.18-20; Lc 24.44-49; Mc 16.15; At 1.8). Sim, transformados
pelo poder do Reino de Deus vivamos para a Sua glória!
[1]Esta palavra transliterada é dunamis.
Significa poder inerente, especialmente em referência a um poder
miraculoso; capacidade; abundância, com o sentido de ato poderoso, poder,
força, obra de poder. Há uma implicação de poder ético, moral, de virtude.
Referindo-se a Deus: o grande poder de Deus, com o sentido de Sua força todo-poderosa
(Mt 22.29; Mc 12.24; Lc 1.35; 5.17; Rm 1.20).
[2]NEWBIGIN, Leslie. O Reino de Deus na realidade do mundo. Perspectivas no Movimento
Cristão Mundial. São Paulo: Edições Vida Nova, 2009, p.126.
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