Texto Básico: João 17.11-19
Introdução
Em nosso tempo as pessoas têm vivido para o mundo e seguindo
os padrões do mundo. Essa maneira de viver, essa visão de mundo, recebe o nome
de secularismo. A seguir há uma definição um pouco mais abrangente de
secularismo.
[Secularismo é um…] modo de vida e de pensamento que é
seguido sem referência a Deus ou à religião. A raiz latina saeculum referia-se
a uma geração ou a uma era. “Secular” veio a significar “pertencente a esta
era, mundana”. Em termos gerais, o secularismo envolver uma afirmação das
realidades imanentes deste mundo, lado a lado com uma negação ou exclusão das
realidades transcendentes do outro mundo. É uma cosmovisão e um estilo de vida
que se inclina para o profano mais do que para o sagrado, o natural mais do que
o sobrenatural. O secularismo é uma abordagem não religiosa da vida individual
e social.1
Temos visto o colapso de estruturas tradicionais,
principalmente a família e a igreja. A ciência tem influenciado cada vez mais o
pensamento contemporâneo, causando também uma busca desenfreada por aquilo que
a tecnologia oferece ao homem. Valores morais têm sido substituídos por desejos
imorais, que cada vez mais são vistos pela sociedade em geral como coisas
“naturais”.
Essa inclinação para o profano, em vez do sagrado, tem
contaminado a igreja de um modo cada vez mais abrangente, enfraquecendo aquela
que deve transmitir a mensagem da verdade. A própria verdade, de acordo com a
cosmovisão secular, é relativa. O baluarte da verdade (1Tm 3.15) tem sido
mortalmente afetado pela corrosão de um modo de vida e cosmovisão distantes de
Deus. Vivemos “tempos difíceis” (2Tm 3.1). Nesta lição veremos alguns aspectos
da secularização que têm atingido a igreja de modo mais agudo e a resposta
bíblica contra essa maneira de viver e pensar.
I. Para o secularismo, o que importa é que funcione
Quem nunca ouviu a expressão: “O fim justifica os meios”?
Esse conceito tem sido muito usado em diversas igrejas evangélicas. Não importa
se a mensagem pregada é a do evangelho verdadeiro, o que importa é que venham
novos membros, de preferência com dinheiro no bolso.
Essa ideia de fazer qualquer coisa para se atingir
determinados objetivos é conhecida como pragmatismo.Isso é algo bem secular e
muito evidente em nosso tempo. O pragmatismo ensina que pensamentos, ideias e
ações só têm valor em termos de consequências práticas. Assim, não há qualquer
conjunto fixo teórico de valores.
A igreja cristã tem sido grandemente influenciada pelos
conceitos pragmáticos do secularismo. Se algo “funciona”, então é verdadeiro
também para a igreja. Se a igreja enche, não importa que meios estejam sendo
usados para isso, pois se está dando certo, então, é a vontade de Deus.
A vontade divina já não é algo explícito e objetivo, mas
perfeitamente adaptável às situações. O que realmente importa não é o princípio
de sua presença santa, quem dita as regras, ou o que está escrito na Bíblia,
mas é aquilo que, do ponto de vista humano, funciona. Como disse MacArthur, “o
pragmatismo está em voga; o compromisso com a verdade bíblica é desprezado como
sendo uma fraca estratégia de mercado”.
De fato, é o “mercado” quem dita as regras. Cada vez mais a
pregação da Palavra de Deus cede lugar para novos métodos como teatro, dança,
comédia, shows de rock, e outras formas de entretenimento. Pelo fato de que
esses métodos realmente atraem multidões, eles são considerados como corretos
em si mesmos, independentemente de serem bíblicos ou não. A cada momento, os
grandes ícones da “mídia evangélica” aparecem com um novo slogan que se torna,
automaticamente, a verdade do momento. É “tempo de colheita”, “tempo de se
apaixonar”, “tempo de restituição”, “tempo de cura”, etc. Isso dura até que
apareça outro mais interessante e que dê mais resultados.
O rei Davi viu com assombro os resultados de fazer algo para
Deus de modo pragmático, em vez de seguir o que ele havia determinado. Deus
havia dado as instruções de como a arca da aliança deveria ser transportada (Êx
25.12-14). Em vez de seguir as determinações do Senhor, Davi quis ser “prático”
no transporte da arca de volta para Jerusalém. Ele imitou o modo mundano dos
filisteus para o transporte (1Sm 6.7-8). O resultado disso foi a morte de Uzá
(2Sm 6.6-7). E, “temeu Davi ao Senhor, naquele dia, e disse: Como virá a mim a
arca do Senhor?” (2Sm 6.9). Seguir ao mundo em vez de a Palavra de Deus nunca
dá bom resultado.
II. O secularismo diz não a Deus e sim a Mamon
Outro aspecto muito importante no qual a igreja tem se
secularizado é quanto ao lidar com dinheiro, com finanças. O profeta Isaías
descreveu uma triste situação em Israel e deu uma solene advertência: “Ai dos
que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e
ficam como únicos moradores no meio da terra!” (Is 5.8). Israel já precisava de
uma reforma agrária. O que é esse desejo de ter mais e de estar acima dos
outros? O que é essa sensação que domina o ser humano e o faz ter tanta vontade
de possuir coisas? Esses homens, a respeito de quem o profeta pronunciou um “ai”,
iam comprando todas as casas e todos os campos até que se tornassem os únicos
donos de tudo. Então, eles podiam olhar para suas propriedades e dizer para si
mesmos: “Tudo isto é meu”. Parece que o desejo humano não se satisfaz enquanto
existir algo que “não é dele”.
Infelizmente esse desejo tem feito parte da vida de muitos
cristãos. Eles têm sido contaminados pelo desejo de possuir, de ter, de
comprar. O Senhor Deus fica em segundo plano na vida de muitos, que têm seus
olhos voltados constantemente para Mamon. Jesus fez uma severa advertência
quanto a isso: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de
aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro.
Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). No texto grego, “riquezas” é
uma tradução do nome “Mamon” que era considerado o deus das riquezas. Mamon é,
sem sombra de dúvida, o maior, e talvez até, o único deus rival do Deus
verdadeiro.
A igreja de hoje tem despendido muita energia na busca de
adquirir dinheiro. Para muitos líderes evangélicos de hoje, as pessoas a serem
evangelizadas deixaram de ser consideradas possíveis novos servos do Senhor
para representar mais entradas no caixa da igreja. Ao mesmo tempo, muitos
crentes se tornam membros de igreja, mas não se envolvem financeiramente com
ela por meio dos dízimos ou de ofertas. O dinheiro fica em primeiro lugar. Mas
ninguém pode servir a dois senhores.
III. Para o secularismo, a mídia é uma regra de fé e prática
A televisão e a internet têm se revelado poderosos
instrumentos de massificação do mundo pós-moderno e pós-cristão. Em um tempo em
que as pessoas dizem não ter tempo para ler ou conversar, o bombardeio de
imagens tem promovido uma espécie de anti-intelectualismo superinformado, pois
anula a capacidade de “ler” e criticar, substituindo a razão pela emoção e o
significado pelo entretenimento.
Esse comportamento secular massificado também tem atingido
enormemente a igreja. Os cristãos, assim como os não cristãos, perderam a
capacidade ler, interpretar e criticar, passando apenas a assimilar o que veem
na internet ou na televisão, quase sempre, coisas muito superficiais. Com essa
embriaguez causada pela mídia, as mentes ficam saturadas de lixo. Influenciados
por esse modo de viver mundano, muitos crentes deixaram de lado a leitura da
Palavra de Deus e a meditação diária que deveriam fazer nela. Grande parte dos
crentes da atualidade tem abandonado as riquezas e o doçura da Palavra de Deus
(Sl 19.10), trocando-os por fontes vazias, cisternas rotas, como fez o povo de
Israel: “Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram
deuses? Todavia, o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum
proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz
o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial
de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”
(Jr 2.11-13).
A regra de fé e prática do povo de Deus deve ser a Palavra
de Deus e não as mensagens seculares e mentirosas de nosso mundo pós-moderno. A
Bíblia é sempre lâmpada para nossos pés e luz para o nosso caminho (Sl
119.105). Temos de nos alimentar dela para que nossa cosmovisão possa ser a de
quem enxerga o mundo com a mente de Cristo (1Co 2.16).
IV. Não ao secularismo e sim ao caminho estreito
Seria o objetivo da igreja de hoje simplesmente abarrotar
seus templos de pessoas e conseguir muitos “curtir” no Facebook? Parece que o
que importa é marketing, divulgação, exposição, mas sem conteúdo ou mensagem
relevante. Muitos continuam buscando, como em grandes lojas em liquidação, os
lugares em que há mais pessoas.
Evidentemente, esse caminho secular, da religião das
multidões, é muito diferente do que ensina a Palavra de Deus: “Entrai pela
porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a
perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e
apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com
ela” (Mt 7.13-14).
O caminho largo é o caminho das vantagens pessoais, é o
caminho da ausência de compromisso e dedicação, é o caminho da despreocupação.
Isso quer dizer que o caminho estreito é o caminho do sofrimento? Depende de
como alguém entende essa frase. A ideia de que o sofrimento nos redime e nos
faz aceitáveis diante de Deus, simplesmente não é bíblica. O caminho estreito é
o caminho da submissão a Deus. É estreito porque simboliza a dificuldade de
andar por ele para quem está acostumado aos atalhos da vida. É por isso que há
tão poucas pessoas nele.
Não devemos desanimar se a religião que professamos não é
popular, ou se as multidões não estão interessadas nela, pois como disse o Rev.
Ryle, “o arrependimento, a fé em Cristo e a santidade na vida nunca estiveram
na moda”. Muitos têm se iludido com um marketing bem elaborado e com supostas
curas e milagres, mas é preciso muito cuidado: “Há caminho que parece direito
ao homem, mas afinal são caminhos de morte” (Pv 16.25).
V. Não à morte, sim à esperança que não confunde
A religiosidade sem Deus resulta em morte espiritual. É isso
que encontramos no mundo. É isso o que temos em cristãos que se secularizaram.
Neles temos um conceito relativista do mundo pós-moderno, que é uma atitude de
pessimismo em relação a este mundo, pois foi uma atitude de desilusão com a
sonhada era de paz e prosperidade prometida pelo modernismo racionalista e
científico que, afinal, não veio. Tudo permanece como sempre foi: a eterna
corrupção nos altos e nos baixos cargos da nação. A escalada vertiginosa da
violência. O egoísmo desenfreado do ser humano, que só se preocupa consigo
mesmo. As guerras, a pobreza, as pestes, os desastres naturais, etc. Esses e
outros são elementos que dia a dia se acrescentam a já infindável lista de
males a que este mundo está submetido. Por isso, o pessimismo reina e o
desespero das pessoas cresce a cada dia.
Mas, para os verdadeiros filhos de Deus, o sofrimento e as
tribulações podem ser úteis para o desenvolvimento de sua salvação. Não devemos
olhar para eles como coisas necessariamente malignas, pois no meio das
tribulações, ao desenvolver a perseverança, a experiência e a esperança, o
crente pode experimentar o amor de Deus de um modo que jamais poderia sem o
sofrimento (Rm 5.3-4).
A Escritura diz: “Ora, a esperança não confunde, porque o
amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi
outorgado” (Rm 5.5). Os teólogos puritanos do passado consideravam isso uma
manifestação especial do amor de Deus ao homem que sofre. Embora esse amor
esteja disponível a todo crente, é no momento do maior sofrimento que podemos
nos aproximar do Senhor e experimentar uma comunhão tão íntima que dificilmente
conseguiríamos de outro modo.
Conclusão
É muito triste constatar a realidade de que um grande número
de cristãos, têm se secularizado, têm dado enorme valor às coisas do mundo, em
detrimento das coisas de Deus. Jesus, em sua oração sacerdotal, pediu ao Pai
que não fôssemos retirados do mundo, mas que fôssemos libertos do mal (Jo
17.15). Isso porque temos a missão de ser sal e luz para este mundo (Mt
5.13-16).
Se temos a mente de Cristo, devemos seguir o que o apóstolo
Paulo disse aos colossenses: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com
Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de
Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.1-2).
Nós morremos em Cristo para viver para ele. O Senhor nos
concede vida, e vida em abundância (Jo 10.10). Precisamos abandonar os
atrativos seculares para desfrutar das maravilhosas riquezas que temos em
Cristo Jesus.
Aplicação
Você seria capaz de fazer uma lista de atitudes comuns ao
seu dia a dia que poderiam ser descartadas por serem meramente seculares e
contrárias à Palavra de Deus? Que atitudes você pode tomar para ter uma mudança
de hábitos, para que sua vida seja muito mais voltada para o reino de Deus e a
glória do Senhor Jesus?
* Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura
Cristã, na série Expressão, 2013. Usado com permissão.
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