Texto básico: Romanos 12.9-11
Introdução
Iniciamos esta lição com Provérbios 26.18-20: “Como o louco
que lança fogo, flechas e morte, assim é o homem que engana a seu próximo e
diz: Fiz por brincadeira. Sem lenha, o fogo se apaga; e, não havendo
maldizente, cessa a contenda”.
Paulo começa a seção ética de sua carta aos Romanos com a
excelência do “culto racional” e da diversidade dos dons espirituais que devem
estar a serviço da igreja. Entre os dons espirituais e os degraus do
comportamento cristão, exatamente no começo de Romanos 12.9, ele coloca a pedra
angular da ética cristã: “o amor seja sem hipocrisia”. O amor, que é realmente
o princípio governante da vida cristã, é mais do que uma emoção, e é de
natureza mais firme do que mero sentimentalismo ou pura filantropia. Salomão
poetiza esse amor sem hipocrisia, dizendo: “Põe-me como selo sobre o teu
coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e
duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são
veementes labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios,
afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de
todo desprezado” (Ct 8.6-7). A partir do “amor sem hipocrisia”, vêm os degraus
da ética do comportamento cristão, que vamos estudar em lições seguintes. Nesta
lição trataremos de seis desses degraus.
I – DETESTAI O MAL
Detestar o mal é o mesmo que odiá-lo. Paulo usa várias vezes
a palavra “fugir” para significar a repulsa que o cristão deve ter das coisas
que são más (1Co 6.18; 10.14 e 1Tm 6.11): “Tu, porém, ó homem de Deus, foge
destas coisas”. Carlyle, escritor cristão, comentando esse texto, diz: “O que
necessitamos é ver a infinita beleza da santidade, e a infinita maldição e o
horror do pecado”. O apóstolo João, em sua primeira epístola, coloca esse
“detestai o mal” da seguinte maneira: “Não ameis o mundo nem as coisas que há
no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo2.15).
II – APEGAI-VOS AO BEM
O verbo “apegar” sugere um desejo intenso de apropriar-se de
alguma coisa. O salmista assim se expressa: “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu
te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como
terra árida, exausta, sem água.” (Sl 63.1).
O comportamento ético do cristão é uma busca constante e
intensa do que é bom. As palavras usadas por Paulo são firmes: “detestai” e
“apegai”. Elas podem ser ilustradas com dois versos de Colossenses, como
veremos a seguir.
1. Detestai
“Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira,
indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não
mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem” (Cl 3.8 e 9).
2. Apegai-vos
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados,
de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de
longanimidade” (Cl 3.12).
Tudo isso nada mais é do que empurrar para longe de nós o
mal e abraçar de corpo e alma o que é bom, o que edifica.
III – AMAI-VOS CORDIALMENTE UNS AOS OUTROS
Devemos ser afetuosos uns com os outros em amor fraternal. A
palavra “cordialmente” é que qualifica esse amor. “Seja constante o amor
fraternal. Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o
saber acolheram anjos” (Hb 13.1-2). Esse degrau do comportamento ético do cristão é um dos
muitos mandamentos da mutualidade. O amor cordial é recíproco: “uns aos
outros”. Dentro da igreja não somos estranhos; muito menos unidades isoladas.
Somos irmãos, porque temos o mesmo Pai. A igreja não é um clube onde as pessoas
se associam; nem simplesmente uma reunião de amigos. A igreja é a família de
Deus. A reciprocidade no amor é a marca mais visível no Corpo de Cristo.
IV – NO ZELO, NÃO SEJAIS REMISSOS
O descuido da vida cristã acarreta sérios problemas. O
cristão não pode tomar as coisas de qualquer maneira. O nosso cotidiano é
sempre uma alternativa entre a vida e a morte. O tempo é curto e a vida terrena
é uma preparação para a eternidade. O profeta Jeremias exorta-nos: “Maldito
aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!” ( Jr 48.10). Costuma-se dizer
que o cristão pode abrasar-se, porém nunca oxidar-se. Jesus, em carta à igreja
de Laodicéia, exorta: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso
e arrepende-te” (Ap 3.19).
V – SEDE FERVOROSOS DE ESPÍRITO
William Barclay, comentando esse degrau da ética do
comportamento cristão, diz: “Devemos manter nosso espírito sempre em alta.
Espírito fervoroso é espírito que transborda em amor por Deus e pelo próximo.
Ilustra-se esse fervor com uma vasilha de água fervendo no fogo”. Foi
exatamente nessa dimensão que Jesus advertiu a igreja de Laodicéia: “Conheço as
tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem deras fosses frio ou quente!
Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitarte da
minha boca” (Ap 3.15-16). O que se requer do verdadeiro cristão é que ele seja
“fervoroso de espírito”. Isto é, uma pessoa entusiasmada e apaixonada pela
salvação das almas e pela santificação da Igreja.
VI – SERVINDO AO SENHOR
Quem serve ao Senhor, está servindo ao seu próximo, e quem
serve ao seu próximo está servindo ao Senhor. Jesus coloca esse assunto da
seguinte maneira: “Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes
meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40). O salmista, no hino de
ingresso ao templo, declara: “Servi ao Senhor com alegria”. Esse sentimento
deve ser constante no serviço cristão. O crente deve ter prazer no que faz
servindo ao Reino de Deus. Por isso mesmo, aconselha o apóstolo: “Portai-vos
com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades” (Cl
4.5). “Quem não vive para servir, não serve para viver”.
CONCLUSÃO
Elisabeth Gomes, em seu livro “Ética nas pequenas coisas”,
diz: “Deus espera de Seus filhos pecadores e redimidos pelo sangue de Jesus um
padrão de excelência em tudo. Deste lado da glória não atingiremos perfeição no
sentido de não pecarmos, mas somos aperfeiçoados a cada dia, à medida que nos
achegamos Àquele que cumpre em nós o querer e o realizar”.
A vida cristã é uma experiência que se renova a cada dia em
nosso relacionamento com Deus e com o nosso próximo. Na carta aos Romanos,
Paulo diz: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que,
como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também
andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4). Esse “andar em novidade de vida”
implica:
1. Detestar o mal;
2. Apegar-se ao bem;
3. Amar cordialmente uns aos outros;
4. Não ser remisso no zelo pelas coisas de Deus;
5. Ser fervoroso de espírito;
6. Servir ao Senhor com alegria.
Para encerrar esta lição, reflitamos a respeito dos
seguintes temas.
1. A semelhança de Deus: “Sede perfeitos, como perfeito é o
vosso Pai celeste” (Mt 5.48).
2. O exemplo para a igreja: “… vos tornastes o modelo para
todos os crentes”(1Ts 1.7).
3. O espelho dos fiéis: “Sê exemplo dos fiéis, na palavra,
no trato, no amor, na fé, na pureza” (1Tm 4.12).
Autor da lição: Pr. João Arantes Costa
*Estudo publicado originalmente pela Editora Cristã
Evangélica, na revista “O Comportamento do Crente”. Usado com permissão.
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