Olá, sou uma pessoa das listas. Vivo cercada por check
list: itens de supermercado, livros lidos, livros para ler, séries e filmes,
atividades do dia, da semana, metas do ano, etc, etc, etc… A verdade é que
sinto uma felicidade enorme e estranha em riscar cada um desses itens das
listas assim que concluo. Antes de cada férias, eu pesquiso sobre roteiros,
restaurantes, pontos turísticos. Planejo meticulosamente o trajeto que vou
seguir no dia a dia e pasmem, as vezes planejo na minha mente (agenda) o dia
inteiro. Sinto calafrios e um súbito desespero quando algo sai do controle.
Sou uma pessoa muito organizada? Pode ser. Paranóica? É bem
possível. Ansiosa? Certamente. Mas de uma coisa eu tenho certeza… tenho uma
necessidade enorme de controlar o “meu mundo”. Para as pessoas espontâneas e
desencanadas o que eu estou falando não faz sentido algum, mas se de alguma
forma você se identificou com uma das coisas que eu citei… seja muito
bem-vindo(a) ao meu mundo certinho, onde tudo está sempre sob controle.
Planejei por anos boa parte da minha vida: o momento ideal
para começar a namorar, a melhor fase para me casar, o tipo de emprego que
teria, o tipo de marido que queria, enfim, quase o roteiro de um filme. Não
pensem que é fácil para mim falar isso para vocês, demorei muito tempo para
admitir que sou uma pessoa controladora, porém um tempo maior ainda em admitir
que eu não tenho nada sob controle, que o planejamento só me passa uma falsa
sensação de controle. Não sei se sou ansiosa por ser metódica ou se sou
metódica porque sou ansiosa mas o fato é que achar que tenho o controle das coisas
funciona como um analgésico para minha ansiedade.
A primeira grande tragédia pessoal
Por algum tempo me apeguei ao fato de que ser cristã me dava
privilégios em relação a outros mortais. Acreditava piamente que mal algum
chegaria a minha tenda, NENHUM. Achava que ser cristã me deixava imune as
intempéries da vida, afinal de contas eu era uma escolhida e assim por algum
tempo eu deixei as minhas preocupações e por consequência as minhas listas de
lado, a sensação de segurança pairou sobre minha vida e enfim eu pude descansar,
por muito pouco tempo, até surgir a minha primeira grande tragédia pessoal pós
conversão: meu pai sofreu um enfarto e ficou muito mal.
Bom, aí eu tinha algumas opções a pensar:
1°: Deus estava me castigando por eu não ser uma boa menina
(mas na minha cabeça eu realmente parecia ser uma pessoa legal!!!);
2°: Deus não existe ou Ele é mal e faz coisas ruins a
pessoas boas que eu amo;
3°: Deus é bom, não estava me castigando, porém eu não tinha
esses privilégios de imunidade ao sofrimento que haviam me dito que eu teria
pelo fato de ser cristã.
Eu confesso que essas três hipóteses passaram pela minha
mente e me apeguei por um tempo a cada uma delas, mas eu aceitei o fato que se
o sol nasce e a chuva cai sobre todos, coisas boas e coisas ruins me
aconteceriam independente do fato de ser cristã. E lá se foi o controle de
todos os fatos de minha vida de novo.
Então tive uma nova ideia. Decorei alguns versículos chave
que supus que me dariam algum alívio:
Lançando sobre Ele a sua ansiedade porque Ele tem cuidado de
vós. (I Pe 5.7)
Não andeis ansiosos
por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de
Deus pela oração e súplica com ações de graças. (Fp 4.6)
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia
de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (Mt 6.34)
Usava esses versículos como amuletos, como uma espécie de
mantra espiritual que iria me tranquilizar quando as coisas fugissem ao meu
controle e fazer tudo voltar ao normal, mas a verdade é que eu ainda não havia
entendido ou não queria aceitar o real sentido deles, que eu não tenho o
controle de absolutamente nada na minha vida, e que isso não é motivo para eu
desmoronar toda vez quer algo dá errado. Quando algo sai do controle é motivo
sim para eu confiar no amor de Deus por mim.
Não como antes, que Eu fazia dele um tipo de escudo
magnético contra coisas que me faziam sofrer, mas sim como um pai amoroso, que
não sai do meu lado quando eu estou sofrendo, e que enxuga cada uma de minhas
lágrimas. Não como um autoritário carrasco que está a espreita de qualquer erro
meu para me punir duramente, mas como um pai disposto a me ensinar com meus
erros e me ajudar a amadurecer em minha caminhada aqui na terra apesar das
circunstancias que passo.
Um caminho chamado ‘aprendizado’
Não está sendo um aprendizado fácil para mim. É doloroso, me
tira de minha zona de conforto e me faz questionar muitas verdades nas quais eu
acreditava. Ainda faço minhas adoráveis e tranquilizantes listas, e as vezes
aquela que quer controlar tudo ao meu redor ainda fala mais alto que aquela que
quer simplesmente viver um dia de cada vez, mas de uma coisa eu posso ter
certeza, hoje eu confio muito mais no amor e no cuidado de um Deus Pai que na
proteção de um deus escudo mágico.
E quero aproveitar e fazer um convite aqueles, que como eu,
sentem o desejo de controlar todos os fatos do dia a dia, convido-os a embarcar
numa aventura de uma vida imprevisível, as vezes divertida e as vezes triste,
mas com a certeza de que jamais estaremos sozinhos nessa jornada desconhecida.
Vamos juntos?
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