Mateus
18.21-22
21 Então
Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas
vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra
mim? Até sete vezes?” 22 Jesus
respondeu: “Eu lhe digo: Não até sete,
mas até setenta vezes sete.
Ferroada
de abelha
Só
quem teve o dissabor é que sabe: ferroada de abelha
dói muito. Alguém descreveu a
sensação instantânea como um choque de
alta voltagem. Depois da ferroada, o local fica vermelho, inchado e
latejando. É uma dor que persiste mesmo depois da
sensação inicial na hora da ferroada e pode durar
vários dias.
Quando
as abelhas ferroam, elas injetam um veneno (melitina) nas
vítimas que ativa receptores de dor, deixando aquela
sensação de queimadura. Depois que o
ferrão penetra a pele, como tem a forma de uma espada com
farpas, ele fica preso lá dentro, para continuar injetando
mais veneno. Estratégia de defesa.
Agora,
não é só a vítima que sofre
com a ferroada. A abelha também sofre, e em alguns casos
sofre até mais do que a vítima.
Quando
uma abelha se sente ameaçada, ela utiliza o
ferrão na pessoa que a ela oferece risco. Depois de dar a
ferroada, ela tenta escapar e, por causa das farpas, a parte posterior
do abdômen, onde se localiza o ferrão, na maioria
das vezes fica presa na pele do ferroado e, em alguns casos, a abelha
perde uma parte do intestino, morrendo logo em seguida.
Os
órgãos das abelhas que são
prejudicados em casos que o ferrão fica na vítima
variam de intestino a coração.
Ferroada
de gente
Não
é só ferroada de abelha que dói.
Ferroada de gente também é capaz de causar dor
insuportável na alma de quem foi tratado injustamente.
Ferrão
de gente tem as mais diferentes formas:
Abusos
físicos, verbais ou sexuais.
Castigos
desumanos (principalmente na infância).
Bullying,
Traição, abandono, injustiça,
agressão, ofensa, desprezo, insulto, vergonha,
humilhação, maus tratos, dívida,
golpe, desonestidade, calúnia, fofoca, desrespeito, etc.
Ao
ser ferroada, seja de que jeito for, a pessoa só
será curada depois que o ferrão for retirado da
alma, depois que o perdão for concedido.
O
problema é que muita gente ferroada age como
criança: berra, lamenta e chora por todos os cantos,
queixa-se do ocorrido a quem lhe der ouvidos, mas não deixa
outra pessoa tocar na ferida, arrancar o ferrão e aplicar o
remédio.
Ferrão
na alma
Gente
ferroada por gente, geralmente fica indisposta a perdoar.
Normalmente
essas pessoas não admitem que estejam ressentidas, mas ao se
tocar no nome do ofensor, ao lembrar-se da
situação, brota de dentro delas raiva e rancor.
Elas se transformam para o mal. Dizem que não têm
nada contra, mas não querem nem ouvir falar de quem as
machucou. São pura mágoa. Lewis B. Smedes, em seu
livro Perdoe
e esqueça, escreveu que
o
ressentimento é a ira multiplicada pelo tempo. Ele
não se dissipa como a ira, mas se esconde na alma e
não é detectado por aparelho de ultrassonografia.
Fingimos que estamos em paz enquanto há raiva lá
dentro, no fundo. Então, escondido e reprimido, nosso
ódio abre torneiras subterrâneas de veneno que,
aos poucos, contamina todo o corpo e nossos relacionamentos de maneira
imprevisível e muitas vezes irreparável.
O
ferrão do ressentimento não arrancado da alma
é fatal em todos os sentidos – física,
emocional, relacional e espiritualmente. Ele pode causar no corpo diversas
doenças: insônia, dor de cabeça,
esgotamento físico e mental, artrite,
palpitações, taquicardia, úlceras,
pressão alta, doença de pele, etc.
Emocionalmente,
o ferrão na alma nos aprisiona ao passado e à
pessoa que nos ferroou, tornando-nos amargos e incapazes de amar.
As
feridas que o ferrão do ressentimento não
arrancado da alma pode causar nos relacionamentos também
são desastrosas: gente que se relaciona sem amor, mas por
interesse, conveniência, troca e pelo próprio
sentimento de vingança; gente que vive sozinha, que
é evitada pelas pessoas, pois transpiram rancor.
Espiritualmente,
o ferrão do ressentimento não arrancado da alma
também é fatal, pois quem não perdoa,
amando o irmão em vez de odiá-lo, não
pode dizer que um dia foi perdoado por Deus (1Jo 4.19-21).
A
aula de perdão
Em
nosso estudo sobre a vida de Pedro, hoje nós chegamos
à aula de perdão. Pessoas de caráter
escultural sabem oferecer e receber perdão. O milagre do
evangelho é que a pessoa que recebeu um novo
coração de Deus e se converteu da velha vida,
reconciliando-se com o Senhor, passa a viver em
reconciliação com outras pessoas. Ser
cristão, portanto, pertencer ao reino de Cristo, traz
profundas implicações, não
só para a forma como nos relacionamos com Deus, mas
também para o modo como nos relacionamos uns com os outros.
Para
tanto, a aula de hoje é de extraordinária
importância e nos traz três
lições:
- cuide de suas feridas;
- conceda perdão a quem te ofendeu;
- compreenda a graça derramada sobre a sua vida.
Vamos
lá… Vejamos uma lição de
cada vez.
1.
Cuide de suas feridas
Jesus
Cristo deixou claro que devemos fazer morrer o orgulho para
não pecarmos contra outras pessoas (veja Mt 18.1-14). Mas, o
que nós devemos fazer quando um irmão peca contra
nós? A resposta a este dilema foi o que deu origem
à pergunta de Pedro ao Senhor Jesus Cristo:
Mt
18.21-22 | 21 Então
Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas
vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra
mim? Até sete vezes?” 22 Jesus
respondeu: “Eu lhe digo: Não até sete,
mas até setenta vezes sete.
Antes
da questão levantada por Pedro, o Senhor Jesus, percebendo
como o orgulho da gente é potente o bastante para ferroar os
outros, tratou de ensinar que as pessoas que conseguem perdoar
são aquelas que aprenderam a cuidar de feridas: das feridas
que elas causam e das feridas que elas sofrem.
Quando
nós causamos feridas
Os
discípulos estavam preocupados em defender aquilo que eles
julgavam ser os seus direitos pessoais.
Mt
18.1 | Naquele
momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram:
“Quem é o maior no Reino dos
céus?”
Parece
que eles não aprendiam! Não é mesmo?
Jesus
tinha acabado de ensinar sobre negar
a si mesmo, tomar
a cruz e segui-lo como
essencial na vida cristã (Mt 16.24). Porém,
lá estavam eles, preocupados com o lugar de honra no reino
dos céus, defendendo os seus privilégios.
O
Senhor sabia que um coração orgulhoso assim causa
muitas feridas nas outras pessoas, especialmente quando ele julga que
os outros estão em seu caminho. Por isso que Jesus Cristo
foi radical em seu ensino, dizendo: tornem-se
humildes como uma criança e façam de tudo para
não fazer seu irmão tropeçar
– se tiver que arrancar um olho, arranque-o; se tiver que
arrancar uma mão, arranque-a também. É
preferível a morte ao pecado contra o irmão (Mt
18.1-8).
Infelizmente,
porém, pecaremos contra o irmão. Neste caso, ao
percebermos que o nosso pecado machucou e colocou para correr um
pequenino de Deus, devemos correr atrás dele e
trazê-lo de volta para o aprisco, afinal, “o
Pai de vocês, que está nos céus,
não quer que nenhum destes pequeninos se perca” (Mt
18.9-14; cf. Mt 5.23-24).
Quando
nós somos feridos
Não
é só o outro que corre o risco de se afastar e de
se amargurar, nós também podemos muito bem ser
ofendidos e nos ressentirmos. Nestes casos, quando pecarem contra
nós, o que devemos fazer? Jesus nos aponta quatro passos.
1.1
– Vá e se abra com quem pecou contra você
Mt
18.15 | “Se
o seu irmão pecar contra você, vá e, a
sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir,
você ganhou seu irmão.”
Veja
que a preocupação é dupla:
não deixar o sol se por sobre a ira nem perder o
irmão para o pecado.
Abrimo-nos
com quem pecou contra nós, não com o intuito de
desabafar, dizendo poucas e boas, lavando a alma com desaforos, mas com
o desejo de curar os dois corações: o meu, do
ressentimento; o do outro, do ato do pecado.
Vá
e se abra com quem pecou contra você: mostre-lhe o erro e
ganhe seu irmão.
1.2
– Pegue outros e vá se abrir com quem pecou contra
você
Mt
18.16 | “Mas
se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de
modo que ‘qualquer acusação seja
confirmada pelo depoimento de duas ou três
testemunhas’”.
“Mais
um ou dois outros” para que a conversa seja justa, os
ânimos se acalmem, o pecado seja confirmado, confrontado com
graça e haja um santo constrangimento, levando o que pecou
contra nós ao arrependimento.
1.3
– Leve o caso para a igreja
Mt
18.17 | “Se
ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja;”
A
igreja como corpo e a comunhão dos crentes é a
arena na qual as relações entre
discípulos devem ser tratadas e corrigidas,
através de conselhos, exortações,
orações, etc.
1.4
– Aja com amoroso rigor
Mt
18.17 | “e
se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como
pagão ou publicano.”
Ou
seja: se quem pecou contra o outro não se arrependeu e
não mudou de atitude, não há
razões para crer que tal pessoa seja realmente
cristã. Portanto, não deveria fazer parte da
comunhão. Homens e mulheres segundo o
coração de Deus reconhecem, arrependem e
restituem seus pecados.
Deus
deu à igreja a autoridade para tratar das feridas que nos
outros nós causamos e das feridas que em nós os
outros causaram.
Mt
18.18-20 | 18 “Digo-lhes
a verdade: Tudo o que vocês ligarem na terra terá
sido ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem
na terra terá sido desligado no céu. 19 Também
lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em
qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito
por meu Pai que está nos céus. 20 Pois
onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no
meio deles”.
Dois
ou três reunidos em nome de Jesus para tratar das feridas dos
irmãos terão de Deus a sabedoria para ligar ou
desligar o pecador. Ao apresentar esses passos à pessoa
ferida, Jesus está dizendo coisas muito, muito importantes.
- Feridas precisam ser tratadas. O amor não evita confrontos nem disciplina.
- Feridas precisam ser tratadas com graça e com a maior discrição possível.
- Feridas precisam ser tratadas para que haja restauração das duas partes.
- Feridas expostas precisarão ser levadas à igreja, que com oração e buscando discernimento bíblico achará concordância com Deus para a tratativa do caso.
Cuide
de suas feridas.
2.
Conceda perdão a quem te ofendeu
Ouvindo
a lição de Jesus, Pedro chegou a uma
conclusão prática e verdadeira: “Senhor,
e se a pessoa continuar pecando? E se ela não se arrepender
e pecar de novo? Até quando eu vou ter que perdoar a
pessoa?” Ao
que Jesus respondeu: “Sempre.”
Mt
18.21-22 | 21 Então
Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas
vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra
mim? Até sete vezes?” 22 Jesus
respondeu: “Eu lhe digo: Não até sete,
mas até setenta vezes sete.
O
princípio é claro: sempre conceda
perdão a quem te ofendeu e ponto.
O
que é perdoar?
Jaime
Kemp, falando de perdão, ensina, primeiramente, o
que não é perdoar.
- Perdoar não é esquecer, mas se lembrar como fato tratado na cruz.
- Perdoar não é sentimento, mas decisão proposital que demonstra graça.
- Perdoar não é voltar ao passado, mas tratá-lo com misericórdia e graça.
- Perdoar não é exigir mudanças de quem nos feriu, antes de o perdoarmos, mas exercício de santificação.
Hb
12.14-15 | 14 Esforcem-se
para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade
ninguém verá o Senhor. 15 Cuidem
que ninguém se exclua da graça de Deus; que
nenhuma raiz de amargura brote e cause
perturbação, contaminando muitos.
Perdoar
é…
- Perdoar é muito difícil, mas não é impossível.
- Perdoar é considerar o outro como tão carente de graça como nós somos.
Ef
4.32-5.2 | 4.32 Sejam
bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente,
assim como Deus os perdoou em Cristo. 5.1 Portanto,
sejam imitadores de Deus, como filhos amados, 5.2 e
vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por
nós como oferta e sacrifício de aroma
agradável a Deus.
Cuide
de suas feridas, conceda perdão a quem te ofendeu
e…
3.
Compreenda a graça derramada sobre a sua vida
Para
conseguir perdoar de forma a glorificar a Deus e a abençoar
o ofensor, a pessoa ferida precisará compreender a
graça derramada sobre a vida dela; daí a
parábola a seguir.
Mt
18.22-27 | 22 Jesus
respondeu: “Eu lhe digo: [perdoar] Não
até sete, mas até setenta vezes sete. 23 “Por
isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava
acertar contas com seus servos. 24 Quando
começou o acerto, foi trazido à sua
presença um que lhe devia uma enorme quantidade de prata. 25 Como
não tinha condições de pagar, o senhor
ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele
possuía fossem vendidos para pagar a dívida. 26 “O
servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem
paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. 27 O
senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a
dívida e o deixou ir.
Observe
o seguinte:
- A dívida era impagável. A nossa ofensa contra Deus é irreparável.
- A dívida compromete todo mundo. O pecado se alastra e afeta a outros.
- A dívida é cancelada e o devedor é liberto. Em Cristo, ficamos livres.
Quem
não perdoa age como quem não recebeu
perdão e será condenado.
Mt
18.26-35 | 26 “O
servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem
paciência comigo, e eu te pagarei tudo’.27 O
senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a
dívida e o deixou ir. 28 “Mas
quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia
cem denários. Agarrou-o e começou a
sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me
deve!’ 29 “Então
o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha
paciência comigo, e eu lhe pagarei’. 30 “Mas
ele não quis. Antes, saiu e mandou
lançá-lo na prisão, até que
pagasse a dívida. 31Quando
os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido,
ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia
acontecido. 32 “Então
o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a
sua dívida porque você me implorou. 33 Você
não devia ter tido misericórdia do seu conservo
como eu tive de você? ’ 34 Irado,
seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo
o que devia. 35“Assim
também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de
vocês não perdoar de coração
a seu irmão”.
Um
coração regenerado pela graça de Deus
deve resultar em uma vida transformada, que oferece a mesma
misericórdia e perdão como os que recebeu de
Deus. Alguém que não concede o perdão
aos outros mostra que o seu coração
não experimentou o perdão de Deus.
Quem
recebe graça também reparte graça.
Quem
foi perdoado aprende a perdoar.
Quem
compreende a graça derramada sobre a vida dele(a) exercita o
perdão.
A
aula de perdão
A
aula de perdão é para todos: para os que
ferroaram e para quem foi ferroado. Quem ferroou precisa se arrepender.
Quem foi ferroado precisa perdoar.
O
viver acumula experiências diversas. Na bagagem adquirida ao
longo dos anos, é muito provável que tenhamos
acumulado feridas que os outros em nós causaram,
perceptível ou imperceptivelmente. A tendência
humana é deixar a ferida infeccionar até
contaminar o corpo todo com amargura, ressentimento, ódio,
ira ou vingança.
Pedro
aprendeu que o cristão, para ter caráter
escultural, precisa perdoar.
1Pe
2.23-25 | 23 Quando
insultado, não revidava; quando sofria, não fazia
ameaças, mas entregava-se àquele que julga com
justiça. 24 Ele
mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de
que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a
justiça; por suas feridas vocês foram curados. 25 Pois
vocês eram como ovelhas desgarradas, mas agora se converteram
ao Pastor e Bispo de suas almas.
Exercite
o perdão:
- Não revide a quem pecou contra você.
- Não queira se vingar (mesmo que só com um desabafo).
- Entregue-se a quem julga com justiça.
- Lance os pecados de seus ofensores sobre Cristo.
- Refugie-se em Cristo para ser perdoado e para aprender a perdoar.
- Ele, Bispo e Pastor que é de nossas almas, cuidará de você.
Após
a aula de perdão…
- A quem você precisa perdoar? A quem você precisa pedir perdão?
- Quais são as feridas que você precisa tratar?
- Quais passos você dará na direção da cura?
Graça,
misericórdia e paz a vós todos.
Pr. Leandro Peixoto.
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