“Ao ver isso, o fariseu que o havia convidado disse a si
mesmo: Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo
de mulher ela é: uma ‘pecadora’.” (Lucas 7.39)
Simão não tinha a menor noção de quem era o rabi que havia
convidado para jantar em sua casa. Ele o fez por alguma razão, mas não por
respeito, por amizade ou para honrá-lo. Talvez o tenha feito por si mesmo, por
pura vaidade. Ele recebeu Jesus em sua casa, mas sob desconfiança, que
disfarçou em respeito. Por que Jesus aceitou o convite? As intenções mais
secretas daquele fariseu não lhe eram ocultas! Acredito que o fez porque veio
para revelar o amor e graça divina. Porque veio para buscar e salvar pecadores
e Simão era um deles. O problema é que Simão não tinha clareza sobre si mesmo.
Faltavam-lhe humildade e quebrantamento espiritual, embora fosse um devotado
religioso. Mas aquele jantar seria uma grande oportunidade. A chegada da mulher
‘pecadora’ com seu choro agradecido aos pés de Jesus serviu para tornar tudo
ainda mais especial. A farsa e a verdade estavam reunidas no mesmo jantar. A
presunção e a humildade. Simão e a pecadora. E com eles o Filho de Deus.
Para Simão, aquela cena serviu para confirmar que Jesus não
era profeta coisíssima nenhuma! Se o fosse não aceitaria proximidade e muito
menos o toque de uma pecadora. Para Simão, tudo está muito claro, mas a verdade
é que ele está completamente cego. Não consegue ver o Messias em Jesus e nem
consegue ver a si mesmo na mulher. Se conseguisse seu olhar e atitudes seriam
outras e sua vida seria transformada. Se tão somente ele imitasse a mulher que
tão duramente julgava... A mulher não sabe muito sobre Jesus, mas o ama e é
grata. Ela está decidida a oferecer-Lhe o melhor. Já Simão, na medida em que se
considera bom e julga a mulher, peca mais. A mulher, na medida em que se
humilha aos pés do Mestre, santifica-se mais. Que caminhos percorrem nossa
espiritualidade na media que agimos como agimos?
O melhor lugar para Simão seria ao lado da mulher, de
joelhos, ajudando-lhe a cuidar dos pés de Jesus. Mas considerava-se bom demais
para isso. Porém, é o coração da mulher que está transbordando de amor e
gratidão! O dele está dominado pelo preconceito e o julgamento. O modo como
olhamos para os outros diz muito sobre o acreditamos sobre nós mesmos. Devemos
ter cuidado com nossas ilusões sobre quem, de fato, somos! O jantar de Simão
era uma completa farsa. O gesto da mulher, a mais sincera devoção. Jesus sabia
quem era a mulher e quem era Simão. Ele amou a ambos, por isso aceitou o
convite do fariseu e a proximidade com a mulher. Jesus sabe quem somos nós. E
nós? O que sabemos? Com quem mais nos assemelhamos? Com Simão ou com a mulher?
Com quem prepara festas cheias de mentira ou com quem prostra-se cheio de amor
e gratidão?
ucs
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