Texto Básico: 1 Pedro 5.5-7
Introdução
Você já se viu como alguém ansioso? O apóstolo Pedro, sim…
ele foi do tipo ansioso. Temeu afundar quando estava caminhando sobre as águas,
mesmo estando Jesus ao seu lado (Mt 14.29-31). Também teve medo do que
aconteceria com Jesus no Jardim do Getsêmani, o que o fez puxar sua espada e
tentar enfrentar um batalhão de soldados romanos (Jo 18.2-3,10) (o medo pode
ser muitas coisas, mas nunca é esperto!). Como você, Pedro foi ansioso. Mas
aprendeu a lidar com sua ansiedade segundo Deus. As lições que ele aprendeu
foram ensinadas a nós em uma das cartas que escreveu. Observaremos que ele
mudou, e isso enche de esperança até o mais ansioso dos corações.
Uma roupa do tamanho certo
A indústria da moda é implacável. Quando ela determina um
modelo, fica praticamente impossível achar roupas que fujam àquela regra
preestabelecida pelos gurus de estilo. Sem considerar quem é de fato seu
mercado consumidor, estipulam o tamanho e a silhueta “da moda”. O que acaba
acontecendo, ao final das contas, é que nem toda roupa cabe em todo mundo e
procuramos nos “amoldar” à roupa do momento. Essa situação, embora não tenha
nada de santo, ilustra a maneira como Deus trabalha conosco: Pedro exorta que
nos cinjamos de humildade na luta contra a ansiedade (1Pe 5.5). Constantemente
lemos na Palavra de Deus repetidos apelos para que nos revistamos de trajes
piedosos (Rm 13.14; Ef 6.11; Cl 3.12). É digno de nota o fato de que a primeira
roupa que foi feita pelo próprio Deus. O Criador rejeitou o estilo do homem e
providenciou outro melhor, duradouro. Espiritualmente não é diferente.
A humildade, entretanto, já foi alvo de maiores louvores.
Hoje o termo tem sido usado para se referir à pobreza de bens materiais ou de
capacidade intelectual. As pessoas humildes hoje são ridicularizadas e
maltratadas. O mundo as coloca em segundo plano, enquanto exalta o tipo
orgulhoso. Pedro nos incentiva a ser diferentes. De fato, o apóstolo Pedro
espera que, assim como um escravo de seu tempo, que se cingia para servir a seu
senhor, ou seja, amarrava sobre si trajes de serviçal para manter limpas suas
roupas, o crente também deve revestir sua vida da fina roupa da humildade.
Vestimo-nos com humildade para com outros quando vamos ao
encontro das suas necessidades. A humildade é a atitude daquele que não se
considera tão bom que não possa servir aos outros, ou de quem se julga tão
superior que não possa se curvar. Trata-se de considerar o próximo alguém mais
importante do que a si mesmo.
Precisamos considerar aqui o exemplo de humildade de nosso
Senhor Jesus Cristo. As Escrituras afirmam que Jesus, ao assumir nossa
natureza, se humilhou obedientemente, indo até a morte para nos servir com a
redenção por ele propiciada (Fp 2.5-10). É um desafio considerar outra pessoa
mais importante do que nós mesmos.O primeiro passo para desfrutar das bênçãos
da humildade, seguindo o exemplo de Cristo, é curvar-se para servir até mesmo o
considerado indigno.
O apóstolo Pedro, com o propósito de dar peso ao seu
argumento, lembra-nos do texto de Provérbios 3.34, que diz: “Certamente, ele
escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes”. Tiago, como Pedro,
também se lembra desse texto de Provérbios em sua carta: “Deus resiste aos
soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6); Pedro chega à mesma conclusão:
“Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus” (1Pe 5.5- 6). A falta de
humildade é, em primeira instância, um problema diante de Deus, pois acima de
todos, devemos nos humilhar diante dele. A recusa em se humilhar é uma recusa
diante de Deus. Deus reserva sua graça aos humildes, e diz, por meio do profeta
Isaías, que faz sua habitação com o “abatido de espírito” (Is 57.15), que olha para
“o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra” (Is 66.2). Por
intermédio de Miqueias, O Senhor nos informa o que requer de nós: “andes
humildemente com o teu Deus” (Mq 6.8).
Quando Pedro nos orienta na direção da humildade, diz que o
façamos “sob a poderosa mão” de Deus. Essa expressão, no Antigo Testamento,
simbolizava o poder controlador de Deus. A pessoa humilde constata que Deus
está no comando, sempre cumprindo seus propósitos soberanos, operando
sabiamente todas as coisas para o bem daqueles a quem ele ama (Rm 8.28).A chave
é nunca contestar a sabedoria de Deus, ao contrário, aceitar humildemente
qualquer coisa que Deus trouxer à sua vida como vinda de sua poderosa mão.
Essa humildade foi exemplificada na vida de Jó. Muitas
coisas foram questionadas por Jó, mas ele nunca fez isso para questionar a
sabedoria soberana de Deus em escolhê-lo para manifestar sua glória. Pelo
contrário, no lugar de contestar a sabedoria de Deus, ele a louvou (Jó
1.20-21), reconheceu que tudo provinha das mãos do Senhor (Jó 2.10). As
Escrituras atestam que “Em tudo isto não pecou Jó com seus lábios”.
Nunca veja a mão poderosa de Deus em sua vida como pronta
para dar um bofetão, e sim como motivo de esperança. Observe que ele só quer
ver bons resultados em suas atuais circunstâncias. Essa atitude não deixa nem
um pouquinho de energia para a ansiedade movimentar-se.
Aprenda a confiar
A confiança de que Deus realiza as coisas no tempo correto,
no tempo dele, não é uma questão trivial ou periférica à fé cristã. A humildade
requer plena confiança no Deus zeloso. A ansiedade se instala quando as dúvidas
que temos não são corretamente respondidas. Afinal, como posso confiar em
alguém se não estou certo de que ele se importa? E se ele se importa, como
poderei confiar em quem não sei se tem poder para cuidar de mim? Perguntas como
essas são relevantes, se quisermos dar um basta na ansiedade. O apóstolo Pedro
colocou a base dessa confiança no cuidado amoroso que Deus nos tem mostrado
repetidamente. Sua poderosa mão atesta o seu poder e, ao dizer que Deus “tem
cuidado de vós”, o apóstolo responde que quem tem poder se importa, e já o tem
feito o que nos é necessário ao nosso bem.
Sobre essa base, Pedro nos diz como devemos lidar
apropriadamente com a ansiedade: “lançando…”. A palavra traduzida por “lançar”
era usada para indicar que se atirava alguma coisa sobre outra, assim como uma
manta sobre um animal de carga (leia Lc 19.35). O que Deus nos está ordenando,
por intermédio de Pedro, é que reunamos toda nossa ansiedade, todo
descontentamento, desânimo, desespero, dúvida, dor e sofrimento, e lancemos
tudo isso sobre Deus.
A. Um exemplo encorajador
Quando lutamos contra a ansiedade, precisamos nos lembrar de
que Deus realmente cuida de nós. O exemplo de Ana será de grande ajuda para que
nos lembremos do cuidado de Deus. Sua história está registrada nos primeiros
capítulos de 1Samuel.
Ana era uma mulher hebreia que não tinha filhos. Isso era
motivo de sofrimento significativo para uma mulher naquele tempo, dentro da comunidade
da aliança. No primeiro capítulo da profecia de Samuel, encontramos Ana orando
no templo. Lá ela derramava o sofrimento de sua alma, que era tão grande que o
profeta Eli a tomou por embriagada (1Sm 1.14). Lamentavelmente, não é raro
encontrar quem, vendo-nos carregar nossos fardos, nos trate sem nenhuma
sensibilidade, muitas vezes amontoando mais peso sobre nós.
Quando o profeta Eli falou novamente, agora usado por Deus,
para tranquilizar aquela serva, diz a Escritura que ela mudou completamente
(1Sm1.10-18). O que aconteceu com ela? Por que ela não estava mais triste?
Sua situação continuava a mesma, mas ela mudou quando lançou
sua aflição sobre o Senhor. Pela benevolência do Senhor, sua situação seria
mudada (ela teria um filho), mas o alívio veio antes disso. O que é importante
lembrar é que o alvo de Deus nem sempre é alterar a situação.Tudo que passamos
nesta vida tem o objetivo de nos alterar! Ana é a prova: quando você se humilha
sob a poderosa mão de Deus, lançando toda a sua ansiedade sobre seu amoroso
cuidado, ele o exaltará no devido tempo.
B. Exaltação no tempo oportuno
Pedro diz que quando nos humilhamos diante de Deus, ele, em
tempo oportuno, nos exalta (1Pe 5.6). Em Filipenses, Paulo nos diz que essa foi
a ação de Deus em relação a seu filho, a quem “exaltou sobremaneira e lhe deu o
nome que está acima de todo nome” (Cf. Fp 2.9). Não obstante, o próprio Senhor
Jesus havia ensinado que “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado” (Mt
23.12). Essa é uma promessa, e Deus, cujas promessas ele sempre cumpriu, não
fará diferente.
A ansiedade começa, entretanto, quando nossa dificuldade em
esperar pelo “tempo oportuno” é maior do que a fé na promessa da futura
“exaltação”. Mas qual seria o tempo oportuno? Quando será? Não podemos nos
esquecer de que tudo o que acontece em nossa vida não foi apenas permitido mas
também projetado por Deus, que soberanamente desenhou esses acontecimentos com
o objetivo de imprimir em nós a imagem de seu filho, Cristo Jesus.
Não se esqueça de que Deus está trabalhando em você, e ele
não desistirá até ver sua obra concluída (Fp 1.6). Portanto, o tempo oportuno é
quando ele tiver cumprido em nós o seu propósito. Embora essa pareça ser uma
resposta vaga, lembre-se de que Deus sempre age no momento certo, com um
objetivo claro para cada acontecimento, e o objetivo é nos fazer cada vez mais
parecidos com Cristo.
Conclusão
A luta contra a ansiedade é uma luta diária pela humildade.
Nosso coração rebelde tem dificuldades em se submeter ao bom querer do soberano
Deus; e o que se colhe com essa atitude é a ansiedade. Quando aprendemos a
descansar na providência amorosa do Criador soberano e zeloso, aprendemos
o verdadeiro segredo das pessoas
felizes, que vivem sem ansiedade, confiadas no cuidado que Deus tem por nós.
Aplicação
Procure desenvolver uma atitude humilde. Em termos práticos,
isso se consegue submetendo-se à vontade de Deus. Aprenda a confiar, lançando
sobre Deus sua ansiedade. O segredo não está em saber algo novo, mas em colocar
o que se sabe em prática.
* Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura
Cristã, na série Expressão – Vencendo a Ansiedade. Usado com permissão.
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