Nenhum cristão, e de fato, nenhum historiador poderia
aceitar o epigrama que define a religião como “o que um homem faz com a sua
solidão”.
Foi um dos Wesleys, acho eu, que disse que o Novo Testamento
não faz menção a qualquer religião solitária. Somos proibidos de negligenciar a
nossa própria estrutura conjunta. O cristianismo já era institucional em seus
documentos mais antigos. A igreja é a noiva de Cristo e nós somos membros uns
dos outros.
Em nossa era, a ideia de que a religião pertence a nossa
vida particular — ou seja, que é, na verdade, uma ocupação para a hora de lazer
— é ao mesmo tempo paradoxal, perigosa e natural. Ela é paradoxal, porque essa
exaltação do indivíduo no campo religioso surge em um tempo em que o coletivismo
está derrotando o individualismo em todos os demais campos. […] Há muitos
camaradas intrometidos, autointitulados mestres-de-cerimônias, cujas vidas são
devotadas a destruir a solidão onde quer que ela exista. Eles chamam isso de
“tirar os jovens para fora de si mesmos”, ou “despertá-los”, ou “fazê-los
superar a sua apatia”.
Se um Agostinho, um Vaughan, um Traherne, ou um Wordsworth
tivessem nascido em nosso mundo moderno, os líderes de um grupo de jovens logo
os curariam. Se lares realmente bons, como o lar de Alcino e Arete na Odisseia,
ou os Rostovs de Guerra e Paz, ou qualquer uma das famílias de Charlotte M.
Yonge, existissem hoje, eles seriam denunciados como burgueses, e algum plano
de destruição seria elaborado contra eles. E mesmo que os planejadores
falhassem e alguém fosse deixado só, um exame mostraria que ele seria — num
sentido não pretendido por Scipio — não menos solitário do que quando sozinho.
Nós vivemos de fato em um mundo faminto de solidão, silêncio
e privacidade, e, por isso, faminto de meditação e amizade verdadeira.
Extraído de
Um Ano com C. S. Lewis
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