Sempre que tomamos conhecimento do envolvimento de um pobre
numa prática criminosa, nos dividimos em dois grupos opostos: primeiro, o
daqueles que põe toda a ênfase na responsabilidade pessoal do criminoso.
Bradamos: "Não há o que justifique o crime". Há daqueles, contudo,
que encontram-se num outro extremo. Eliminam a responsabilidade humana botando
todo o peso da responsabilidade sobre o caráter corruptor do meio -a injustiça
social.
Ambas as formas de pensar são desumanas, irracionais e
carentes de simetria. Elas cometem o erro de elevar um aspecto da verdade à
condição de verdade completa.
Negar a responsabilidade humana é conduzir a sociedade ao
caos. Significa atribuir ao comportamento humano um determinismo -de natureza
social- que lança no lixo todo o conceito de dignidade humana. O que também nos
conduz a declarar o que ninguém consegue sustentar na prática, especialmente,
quando se põe no lugar da vítima.
Não considerar o papel corruptor do meio -o poder corrosivo
da desigualdade social-, é praticar, de modo diferente, os mesmos erros
supramencionadas. Expõe a sociedade ao caos, uma vez que nega as causas
indiscutíveis de grande parte dos conflitos entre homens. Por que adolescentes
suecos, finlandeses e noruegueses não estão praticando roubo com faca?
Pensar apenas no dever do indivíduo,sem considerar suas
circunstâncias político-sociais, nos expõe a pensamento racista presente na
cabeça de muitos: que todos estamos sujeitos a um outro tipo de determinismo, o
que atua do modo mais inexorável possível -o genético. Matamos muito no Brasil
porque somos uma sub-raça mestiça. Se genética é destino, esqueça de chamar os
políticos brasileiros de corruptos. O que eles podem fazer se nasceram para
roubar? Se o problema é esse e dele estamos certos a partir dos dados da
violência no Brasil, não se esqueça de falar sobre os dados da violência na
Alemanha de Hitler. Lembre-se da noite de São Bartolomeu, na França. E inclua a
presença americana no Vietnam e o que eles fizeram antes com os índios no
período colonial.
Podemos ser contra a impunidade e ao mesmo tempo
protestarmos contra as causas sociais da violência. Salta aos olhos um fato.
Não sei como não o consideramos. A desigualdade social, numa sociedade de
consumo, num contexto de guerra às drogas e Estado no qual suas instituições
não funcionam, serve da parteira da maldade. O mal que está presente no coração
de todos nós, seres viciados em si mesmos, não se manifestaria, em grande
parte, se não fosse provocado. É certo que esse modelo de sociedade não levará
a todos à prática do crime, mas sempre levará a alguns, o que não elimina a
responsabilidade pessoal do criminoso, mas que avulta a responsabilidade social
dos que permitem a si mesmo viver numa sociedade de guetos de exclusão.
No Brasil, historicamente, sempre combatemos a violência com
violência. Nossa história é uma história de genocídio, desigualdade e abuso de
poder. É estranho, vivendo num país como esse, falarmos mais sobre punição do
que sobre inclusão.
Não quero viver num país que exponha a vida de pessoas
inocentes aos motivos torpes de criminosos contumazes, mas também não quero
viver num país cuja a consciência esteja tão endurecida a ponto de se esquecer
dos seus milhões de miseráveis.
Pr. Antônio C. Costa
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