Salmo
45.1
Com
o coração vibrando de boas palavras recito os
meus versos em honra ao rei; seja a minha língua como a pena
de um hábil escritor.
As
boas palavras dos Salmos
É
provável que os Salmos sejam o livro mais amado da
Bíblia. Por gerações, eles
têm sido um dos grandes tesouros do povo de Deus. Charles H.
Spurgeon intitulou o seu comentário nos Salmos de
“Os tesouros de Davi”. Realmente um
ótimo título, pois as palavras desse livro, nas
palavras de Davi, “são
mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro
puro” (Sl 19.10).
A
maioria dos Salmos foi composta para a adoração
de Israel no templo de Jerusalém. Sabemos que foi assim por
causa de 50 deles que são dedicados ao diretor de
música, diversos outros foram compostos para partes
específicas do culto de adoração no
templo e 24 mais estão conectados com os músicos
do templo, tais como os filhos de Corá. Os Salmos, portanto,
refletem a oração e a
adoração do Israel de Deus.
No
Novo Testamento, nós descobrimos que o livro dos Salmos
é o mais citado pelos apóstolos. Por exemplo, nos
Evangelhos nós encontramos Jesus cantando o Salmo 118, no
final de sua última Ceia com os apóstolos (Mt
26.30), antes de partir para o Monte das Oliveiras e ter que enfrentar
o seu calvário.
Em
sua última semana na terra, o Senhor usou os Salmos 8.2;
118.22-23 e 110.1 para silenciar os sacerdotes e os escribas do templo
(Mt 21.16, 42; 22.44).
A
Igreja Primitiva, quando precisou decidir sobre alguém para
substituir Judas Iscariotes, voltou-se para os Salmos 69.25 e 109.8 em
busca de orientação (At 1.20).
Em
sua pregação no dia de Pentecostes, Pedro usou os
Salmos 16 e 110 para falar da ressurreição de
Jesus (At 2.25-36). Quando Pedro e João foram presos, a
Igreja Primitiva orou as palavras do Salmo 2.1-2 (At 4.23-31).
Sabemos
também que Paulo valeu-se grandemente dos Salmos na
composição de grandes doutrinas expostas em
Romanos. Por exemplo, em Romanos 4.6-8 ele ensina a
salvação pela fé a partir do Salmo 32.
Pedro,
quando ensinou os cristãos a retribuírem o mal
com o bem, baseou-se no Salmo 34 (1Pe 3.9-12).
Na
história da igreja, especialmente na Reforma Protestante
ocorrida no século XVI, os Salmos ocuparam papel
proeminente. Sabe-se que pouco antes de Martinho Lutero pregar as suas
95 teses para a igreja, na porta da capela de Wittenberg (Alemanha),
ele havia lecionado no livro dos Salmos por dois anos consecutivos. A
sua visão cristocêntrica na
interpretação dos Salmos contribuiu para forjar
nele as grandes doutrinas da Reforma.
Para
se afastar da prática da missa em latim, os reformadores
introduziram na igreja o cântico congregacional baseado em
grande escala nos Salmos em forma rítmica. O livro dos
Salmos era tão importante para a
adoração dos protestantes que o primeiro livro
impresso em solo americano foi o “Bay Psalms Book”
(O livro dos Salmos da Bahia) em 1644 na colônia inglesa em
Massachusetts.
Nós,
portanto, em matéria de fé, de espiritualidade e
de história, devemos às “boas
palavras” dos Salmos muito além do que conseguimos
estimar. Por isso que um estudo detalhado neste livro merece cada
segundo de nossa atenção.
Abrindo
Os Salmos
Pois
bem, preparando a mesa para nos alimentarmos dessas “boas
palavras” dos salmistas inspirados por Deus, faremos bem em
abrir de forma geral os Salmos, analisando três aspectos
importantes do livro: [1] o livro dos Salmos contém
teologia; [2] ele é um livro de poemas; [3] os Salmos
precisam ser lidos como um livro que tem começo, meio e fim;
introdução, desenvolvimento e
conclusão.
Os
Salmos contêm teologia
Não
precisamos dizer que tomamos os Salmos como um livro divino, inspirado
por Deus. Agora, o que geralmente nós ignoramos é
que os Salmos são uma fonte riquíssima de
teologia e de doutrina. Já no primeiro dos Salmos
nós encontramos uma declaração
fundamental. Introduzindo o livro como um todo, o salmista diz assim:
Sl
1.1-2 | 1 Como
é feliz aquele que não segue o conselho dos
ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se
assenta na roda dos zombadores! 2 Ao
contrário, sua satisfação
está na lei do
Senhor, e nessa lei medita dia e noite.
O
substantivo “lei” é a
tradução da palavra hebraica
“torá”, que significa
“instrução”,
“instrução que vem de Deus”.
O ponto é que Israel deveria ler, receber e meditar nos
Salmos com a mesma reverência que eles davam à lei
de Deus, ao Pentateuco.
Estudar
os Salmos requer de nós a mesma diligência que
qualquer outro livro da Bíblia. Isto é: devemos
ler buscando compreender o seu sentido original, extraindo as doutrinas
e os princípios para nós hoje e colocando-os em
prática.
Os
Salmos contêm teologia.
Os
Salmos colecionam poemas
Cada
Salmo é um poema. A poesia hebraica, porém,
não é composta de rima, ritmo e
métrica, como é o caso da maioria das poesias do
mundo ocidental.
A
poesia hebraica é escrita em paralelismo. A pegada,
portanto, não está na rima, mas na forma
diferente de se dizer a mesma coisa na linha seguinte.
Graças a Deus que é assim, pois se tal poesia
estivesse calcada na rima nós perderíamos o seu
valor nas traduções do original hebraico. A
genialidade da poesia hebraica está justamente no
paralelismo de ideias, fazendo com que a poesia permaneça
poesia em cada língua para a qual ela é traduzida.
Observe
o exemplo no Salmo 1 que já citamos. Veja o verso
2…
Ao
contrário, sua satisfação está
na lei do Senhor,
e nessa
lei medita dia
e noite.
Deus
abençoa duplamente o homem que se dedica à lei do
Senhor. Ele “satisfaz” o seu
coração e “informa” a sua
cabeça. Aliás, o salmista menciona primeiramente
o coração para dizer que o que faz
alguém “meditar” dia e noite na lei do
Senhor é a
“satisfação” que ele sente
nessa lei.
Primeiramente
nós amamos a lei do Senhor para só
então nós conseguirmos nela meditar. Enquanto
poesia, os Salmos foram designados por Deus para agarrar nosso
coração e, consequentemente, engajar a nossa
mente.
Os
salmos agarram o nosso coração de diversas
maneiras.
Em
primeiro lugar, os Salmos foram escritos para serem cantados.
“Salmos” vem do grego, cuja
tradução vem do hebraico
“mizmor”. Ambas as palavras significam
música acompanhada por instrumento musical, particularmente
a harpa.
Em
segundo lugar, os Salmos agarram o coração
através das figuras de linguagem. Os autores são
poetas. Eles são artesãos de palavras. Como tais,
eles pintam imagens que nos atraem com imensa beleza. Por
exemplo…
O
Salmo não diz que “o povo está
triste”. Ele diz assim: “Tu
o alimentaste com pão de lágrimas e o fizeste
beber copos de lágrimas” (Sl
80.5).
O
Salmo não diz que “os fiéis
estão alegres. Ele diz assim: “escolheu-te
dentre os teus companheiros ungindo-te com óleo de
alegria” (Sl
45.7).
O
Salmo não diz simplesmente “protege-me”.
Ele diz assim: “Protege-me
como à menina dos teus olhos; esconde-me à sombra
das tuas asas” (Sl
17.8).
Quando
lemos os Salmos, nós precisamos usar a
imaginação.
Precisamos
visualizar e sentir o que nós estamos lendo, pois em suas
poesias, os homens que escreveram os Salmos derramaram uma enxurrada de
emoções. Por exemplo…
Solidão
| “Volta-te
para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e
aflito.” (Sl 25.16)
Amor
| “Eu
te amo, ó Senhor, força minha.” (Sl
18.1)
Tristeza
| “Gasta-se
a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a
minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos
se consomem.” (Sl 31.10)
Desencorajamento
| “Por
que estás abatida, ó minha alma? Por que te
perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele,
meu auxílio e Deus meu.” (Sl 42.5)
Vergonha
| “A
minha ignomínia está sempre diante de mim;
cobre-se de vergonha o meu rosto,” (Sl 44.15)
Exultação
| “Na
tua força, Senhor, o rei se alegra! E como exulta com a tua
salvação!” (Sl 21.1)
Temor
| “Servi
ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor.” (Sl 2.11)
Paz
| “Em
paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me
fazes repousar seguro.” (Sl 4.8)
Gratidão
| “Dar-te-ei
graças na grande congregação,
louvar-te-ei no meio da multidão poderosa.” (Sl
35.18)
Confiança
| Ainda
que um exército se acampe contra mim, não se
atemorizará o meu coração; e, se
estourar contra mim a guerra, ainda
assim terei confiança. (Sl 27.3)
Falando
sobre a maneira como esta coleção de 150 poemas
disseca o nosso interior, João
Calvino declarou:
Fui
acostumado a chamar este livro, e penso que não
inadequadamente, de “uma anatomia de todas as partes da
alma”, pois não há qualquer
emoção, da qual qualquer um pode estar
consciente, que não esteja aqui representada como num
espelho. Ou melhor, o Espírito Santo tem aqui
atraído para a vida todos os sofrimentos, tristezas, medos,
dúvidas, esperanças,
preocupações, perplexidades, enfim, todas as
emoções dispersas e existentes, pelas quais a
mente dos homens esta acostumada a ser agitada.
Martinho
Lutero, também nessa linha de pensamento,
narrando como os Salmos são capazes de revelar o
céu ou o inferno do coração dos servos
de Deus, escreveu:
Ali
podes contemplar o coração de todos os santos,
como belo e delicioso jardim, ou antes como o céu, e ver
como nele brotam delicadas, encantadoras e deliciosas flores de toda
sorte de belos e felizes pensamentos sobre Deus e sua bondade. Onde
encontrarás palavras mais profundas, mais sofridas, mais
cheias de tristeza que as lamentações dos salmos?
Aqui mais uma vez penetras no coração de todos os
santos como na morte, ou antes como no inferno, e vês como
tudo é tenebroso e escuro diante da visão da ira
de Deus. Também quando falam de temor ou de
esperança usam tais palavras como nenhum pintor que
representa o temor e a esperança foi, é ou
será capaz de fazer. E o melhor de tudo é que
falam tais palavras sobre Deus e com Deus…
Os
Salmos contêm teologia e os Salmos contêm
poemas… Mas, há mais…
Os
Salmos compõem um livro
Os
Salmos compõem um livro, um livro formado por cinco pequenos
livros, escrito por diversos autores: Davi, Salomão,
Moisés, filhos de Corá, Asafe, etc.
Livro
1 (Salmos 1-41); livro 2 (Salmos 42-72); livro 3 (Salmos 73-89); livro
4 (Salmos 90-106); livro 5 (Salmos 107-150).
O
livro composto pelos Salmos, assim como todos os demais do Antigo e do
Novo Testamentos, aponta para Cristo, O próprio Senhor Jesus
disse assim:
Lc
22.44 | E
disse-lhes: “Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava
com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o
que a meu respeito está escrito na Lei de Moisés,
nos Profetas e nos Salmos”.
Os
Salmos precisam ser lidos pela ótica cristã.
Que
história os Salmos contam?
Trata-se
da história do povo de Deus durante os reinados de Davi e
Salomão, continuando durante o tempo de exílio na
Babilônia, terminando com o retorno do povo para Israel.
Os
livros 1 e 2 (Sl 1 a 72) contam do período de Davi e seu
reino.
Os
Livros 3 e 4 (Sl 73 a 106) narram o sofrimento pelo cativeiro
babilônico.
O
livro 5 (Sl 107 a 150) relata o período e as alegrias do
pós-exílio na Babilônia. Isto
é…
1.
O povo vivia a alegria da presença do rei.
Livro
1 – Sl 41.11-12
11 Sei
que me queres bem, pois o meu inimigo não triunfa sobre mim. 12 Por
causa da minha integridade me susténs e me pões
na tua presença para sempre. 13 Louvado
seja o Senhor, o Deus de Israel, de eternidade a eternidade!
Amém e amém!
Livro
2 – Sl 72.17-20
17 Permaneça
para sempre o seu nome e dure a sua fama enquanto o sol brilhar. Sejam
abençoadas todas as nações por meio
dele, e que elas o chamem bendito. 18 Bendito
seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, o único que realiza
feitos maravilhosos. 19 Bendito
seja o seu glorioso nome para sempre; encha se toda a terra da sua
glória. Amém e amém. 20 Encerram-se
aqui as orações de Davi, filho de Jessé
2.
O povo pecou e sofreu as consequências.
Livro
3 – Sl 89.38-39
38 Mas
tu o rejeitaste, recusaste-o e te enfureceste com o teu ungido. 39 Revogaste
a aliança com o teu servo e desonraste a sua coroa,
lançando-a ao chão.
Livro
4 – Sl 106.47
Salva-nos,
Senhor, nosso Deus! Ajunta-nos dentre as nações,
para que demos graças ao teu santo nome e façamos
do teu louvor a nossa glória.
3. O
povo celebra a libertação.
Livro
5 – Sl 107.1-3
1
Dêem graças ao Senhor porque ele é bom;
o seu amor dura para sempre. 2 Assim o digam os que o Senhor resgatou,
os que livrou das mãos do adversário, 3 e reuniu
de outras terras, do oriente e do ocidente, do norte e do sul.
Fim!
Sl 150.6
Tudo
o que tem vida louve o Senhor! Aleluia.
Os
Salmos, portanto…
Contêm
teologia
Colecionam
poemas
Compõem
um livro
Os
Salmos formam um livro que provê para o povo de Deus
liturgia, hinos e músicas de louvor,
orações, poesias, musicais, tratamentos pastorais
e uma teologia das emoções. Mas, acima de tudo,
como bem expressou Walter
Brueggemann:
Em
tempo e fora de tempo, geração após
geração, homens e mulheres fiéis se
voltam para os Salmos como o melhor recurso para se conversar com Deus
sobre as coisas que mais importam. Os Salmos são
úteis pois eles formam uma literatura genuinamente
dialógica que expressa os dois lados da conversa da
fé [o lado de Deus e o lado do homem na comunhão].
Os
Salmos, portanto, são importantes para nós, pois
com eles aprendemos a cantar, adorar, agir, viver, orar e
também ouvir a Deus, seja na alegria ou na tristeza, na
saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza.
Faremos, pois, sempre muito bem se lermos, compreendermos, meditarmos,
cantarmos e orarmos os Salmos tendo Jesus e a história da
redenção em vistas.
Salmo
45.1
Com
o coração vibrando de boas palavras recito os
meus versos em honra ao rei; seja a minha língua como a pena
de um hábil escritor.
Deus
nos abençoe com graça e paz.
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