João Calvino disse que “a oração é o principal exercício da
fé”. Ora, sendo isso verdade, o que nos ajudará, pecadores, a orar? Lembre-se:
a oração é questão de fé. Assim, de onde vem a fé? Ela procede da audição à
Palavra de Deus. Como Paulo escreveu: “Portanto, a fé vem por ouvir, isto é,
por ouvir as boas-novas a respeito de Cristo” (Rm 10.17). A fé – e também a
oração – é gerada pelo evangelho. Esse é o motivo pelo qual a Escritura e a
oração são colocadas juntas tantas vezes.
Vemos essa conexão ilustrada por Daniel, por exemplo. À
medida que ele estava lendo o livro do profeta Jeremias, sua percepção o levou
a orar (Dn 9.1-3). É a Palavra de Deus, a mensagem graciosa de Cristo, que
desperta a fé e também a oração – e assim deve ser a estrutura básica da nossa
comunhão diária com Deus. Precisamos colocar Cristo diante de nós. Isto é,
ouvir a palavra de Jesus na Escritura, no cântico, nos lábios de nossos irmãos
e ao refletirmos enquanto meditamos na Palavra. Devemos desejar que nossos
olhos sejam abertos para contemplarmos a beleza do Senhor e para que sejamos
atraídos de novo a fim de desejá-lo – e então a oração será apenas a
articulação da resposta do nosso coração.
Para resumir o que descobrimos até aqui, a oração é o
principal exercício da fé. Naturalmente somos péssimos na oração porque somos
pecadores. Todavia, a solução – o que nos dará a verdadeira vida de comunhão
real com Deus – é o evangelho de Cristo, que desperta a fé.
Quando, com fé, nós nos dirigimos a Jesus, a oração muda. Há
algo extraordinário a respeito de Jesus. Jesus é o Senhor; ele é Emanuel, o
Deus conosco. Mas nosso Senhor e Deus ora. De fato, ele está sempre orando.
Quando alegre, ele orava; em agonia, orava; ao tomar decisões importantes, como
a escolha dos apóstolos, passou um bom tempo em oração. Sua vida de oração
inspirou os discípulos a lhe pedirem: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11.1).
Todavia, as orações de Jesus não são apenas importantes
porque ele orava na terra como modelo humano. Não! Ao orar, ele também
demonstrava quem é em sentido eterno. João nos diz: “Eu lhes digo a verdade: o
Filho não pode fazer coisa alguma por sua própria conta. Ele faz apenas o que
vê o Pai fazer. Aquilo que o Pai faz, o Filho também faz.” (Jo 5.19). O Filho
sempre depende do Pai; isto é o que ele é eternamente. Dessa forma, por toda a
eternidade Deus Filho desfrutou de comunhão com Deus Pai e com ele se comunicou
(isto é, orou!). Orar, portanto, significa aprender a desfrutar o que Jesus
sempre desfrutou. A oração brota da comunhão com Deus pela Palavra. A Palavra é
a fonte da oração.
Extraído e adaptado de “Deleitando-se na oração”
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