“E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque
toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra” (Gênesis 6.12 –
ACRF).
Ao traduzir essa narrativa bíblica, Eugene Peterson diz que
a terra havia se tornado um esgoto, a violência estava por toda parte, a
situação estava muito ruim pois a própria vida havia se corrompido. Parece até
que esta narrativa é um retrato de nossa atualidade.
Na atualidade, a corrupção parece não mais no incomodar,
pois ela, para muitos, tem se tornado apenas uma quebra de padrões de decência
perfeitamente aceitáveis. O que na verdade é muito estranho, pois, a corrupção
é uma forma devastadora de pecado, é errar o alvo, falhar em alcançar um
padrão, falhar em obedecer à autoridade. Se a vereda é abandonada (estar a
margem = marginalização), a lei é transgredida, ou a autoridade desafiada, isso
deveria nos incomodar e obviamente nos motivar a buscar mudanças urgentes.
Infelizmente, desde o início do seu relacionamento com Deus,
o homem tem mostrado que a corrupção está latente no seu ser. A corrupção faz
parte da nossa própria natureza afetada pelo pecado e precisa ser mortificada
através da atuação do Espírito Santo de Deus em nós.
É triste reconhecermos a inclinação do homem à corrupção,
inclusive em nosso amor ao Senhor. Antes de querermos procurar os culpados,
temos que admitir que a corrupção está ligada ao ser humano, à sua natureza
carnal e pecaminosa. O apóstolo Paulo chamou esta condição interior de um
“cativeiro da corrupção”:
“Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente,
mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação
será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos
de Deus. ” (Romanos 8.20,21)
A palavra grega traduzida como “corrupção” é “phthora”, e
significa: 1) corrupção, destruição, aquilo que perece; 2) aquilo que está
sujeito à corrupção, que é perecível.
Em outras palavras, ela retrata algo que se estraga, que
deixa de ser como era inicialmente, uma decadência. O pecado é uma fonte de
morte, de corrupção, e este reconhecimento levou o apóstolo ao seguinte
desabafo:
“Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta
morte?” (Romanos 7.24 )
A fonte de toda corrupção encontra-se em nossa própria
carne. Para Umberto Eco, a corrupção, é
a insipidez da nossa carne.
O ser humano precisa se lembrar todos os dias que “nossos
pecados são um problema sério aos olhos de Deus” (J. I. Packer). “A corrupção
mata o corpo, a impiedade mata a alma”. (Agostinho de Hipona).
É terrível perceber que temos perdido essa consciência.
Temos perdido a consciência destes maus atos porque “a consciência do pecado
emerge do conhecimento sobre a santidade de Deus” (J. I. Packer). Se não nos
posicionamos ante a santidade de Deus, não temos como enxergar os nossos
pecados. A luz da experiência do profeta
Isaías, somente percebemos nosso pecado quando nos confrontamos com o Deus
Santo (Isaías 6).
É por isso que cristãos devem aprender a andar no Espírito,
e assim mortificar a sua própria carnalidade. É tudo uma questão de escolhermos
onde investiremos e o que fortaleceremos em nossas vidas:
“Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o
homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne
DA CARNE COLHERÁ CORRUPÇÃO; mas o que semeia para o Espírito do Espírito
colherá vida eterna. ” (Gálatas 6.7,8)
O fato de termos em potencial uma fonte de corrupção em nós
mesmos não significa que a corrupção seja inevitável! Não estamos fadados ao
fracasso: temos uma escolha!
Precisamos reconhecer que em nosso estado caído, não
conseguimos assumir as atitudes requeridas por Deus. O pecado se manifesta em
nós com seus efeitos horrorosos o tempo todo. Somente através da graça divina
se é capaz de vencê-lo.
“A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus
Cristo com amor INCORRUPTÍVEL”.(Efésios 6.24 ).
A palavra grega empregada nesse texto pelo apóstolo Paulo e
que se encontra nos manuscritos originais é “aphtharsia”, que significa
“incorrupção”. Esta palavra é usada com relação ao corpo da ressurreição (1 Co
15.42,50,53,54) e é uma condição associada à glória, honra e vida! Esta palavra
às vezes é traduzida por “imortalidade” (Rm 2.7; 2 Tm 1.10) e também pode dar a
idéia de “sinceridade”, de acordo com esta linha de pensamento. Por outro lado,
temos mais dois prováveis significados para esta palavra: 1) incorrupção,
perpetuidade, eternidade; 2) pureza, sinceridade. De qualquer forma, o amor
puro e sincero é o que não se corrompe, que traz em si a perpetuidade, que dura
para sempre!
A afirmação de Paulo aos efésios faz com que reconheçamos
que há pelo menos dois diferentes tipos de amor que os crentes podem manifestar
ao Senhor ao longo do tempo: o amor incorruptível e o amor corruptível.
Portanto, quando falamos de amor ao Senhor, não basta apenas reconhecermos que
há pessoas que O amam e pessoas que não O amam (1 Co 16.22). Se assim fosse, a
nossa única tarefa seria a de fazermos com que os que não amam ao Senhor
passassem a amá-Lo! No entanto, o nosso desafio é ainda maior! Até mesmo dentre
os que hoje professam que amam ao Senhor Jesus Cristo, há os que O amam com um
amor incorruptível e os que têm permitido que o seu amor por Ele se corrompa!
Essa permissão é para sua própria destruição.
O Barão de Montesquieu disse certa vez: “A corrupção dos
governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios”. Se você
escolher negociar seus princípios e comercializar sua ética, significa que seu
amor pelo Senhor já se corrompeu.
O nosso Deus através da Sagrada Escritura tem nos chamando
de volta, independentemente do nível de corrupção que tenhamos permitido em
nossas vidas! Ele quer nos restaurar! Ele tem o poder de nos restaurar. No
entanto, mais do que sermos restaurados da corrupção do nosso amor ao Senhor,
precisamos aprender a caminharmos de um modo a evitarmos que isto aconteça
novamente! Para que isso aconteça, Jesus precisa ser o Salvador e o Senhor das
nossas vidas.
Pr. Carlos Elias de Souza Santos
REFERÊNCIAS:
BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo
Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Almeida Corrigida e Fiel. 8ª
Impressão. São Paulo: Paulus, 2012.
PACKER, James Innell. Vocábulos de Deus. 2. Ed. São José dos
Campos, SP: Fiel, 2011.
PETERSON, Eugene H. Bíblia de Estudo A Mensagem: Bíblia em
linguagem contemporânea. São Paulo: Editora Vida, 2014.
SUBIRÁ, Luciano. De todo o Coração – Vivendo a Plenitude do
Amor ao Senhor. Curitiba-PR: Orvalho, 2009.
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