Para divulgar o novo filme do Quarteto Fantástico, o diretor
Josh Trank resolveu criar um "Tocha Humana" da vida real.
Em um domingo destes, eu estava almoçando com minha esposa
em um restaurante e na mesa ao lado sentou-se uma família -- um casal com dois
filhos adolescentes. Como sou um observador, reparei que rapidamente todos se
assentaram e cada qual puxou do bolso um smartphone e começou a teclar. Só se
deram conta de ler o cardápio muito tempo depois e, logo que fizeram os
pedidos, voltaram a seus aparelhos, permanecendo envoltos em seus próprios
mundos virtuais durante toda a refeição.
Essa cena me fez pensar sobre o impacto da mídia --
refiro-me a todas as expressões midiáticas: redes sociais, internet, televisão
etc. -- nos relacionamentos familiares. Não são poucas as queixas que nos
chegam ao consultório a respeito de filhos que já não interagem com a família em
momento algum do dia, pois, ao chegarem da escola, logo se envolvem com seus
eletrônicos e neles ficam absortos, algumas vezes madrugada adentro. Também há
queixas de cônjuges que veem o companheiro disperso em um mundo virtual ou
televisivo e resumem o diálogo conjugal a expressões monossilábicas.
Esta era eletrônica é, sem sombra de dúvida, sedutora, pois
veicula a informação a uma velocidade espantosa. Aguça a curiosidade das
pessoas para quererem saber sempre mais, inclusive saber mais detalhes da vida
dos outros. Posta-se uma informação ou foto e, em poucos minutos, a rede social
-- algumas vezes, até mesmo pessoas desconhecidas -- está se manifestando com
um “curtir” ou comentários na novíssima gramática “internética”: blz; wow; d+
etc.
De que forma esse modelo interacional virtual pós-moderno
afeta os relacionamentos familiares? Por que existe a necessidade de tanta
informação superficial em tempos quase instantâneos? Por que existe a
necessidade de exposição de detalhes da vida pessoal para um público cada vez
mais impessoal?
Creio que essa necessidade de tornar público cada detalhe da
própria vida, tirando selfies a cada momento ou postando fotos do que está
comendo, traz em si o desejo de se sentir amado. Afinal, se as pessoas “curtem”
o que estou fazendo, é porque elas gostam de mim. Um dos maiores desesperos das
pessoas hoje em dia é serem bloqueadas por alguém de uma rede social, pois no
fundo não se sentem mais amadas por aquela pessoa.
A necessidade de informação vem da fantasia de que informação
é sinônimo de poder. Em alguns âmbitos, como na política, essa premissa é
verdadeira, mas, no cotidiano, ter muita informação, especialmente a
superficial, não empodera ninguém, apenas leva facilmente ao estresse por
sobrecarga mental. Definitivamente não precisamos saber tudo da vida de todos,
antes o importante é saber menos e com mais qualidade da vida daqueles a quem
realmente amamos.
Por fim, o maior impacto deste modelo interacional dentro da
família é que ele leva os membros da família a um ensimesmamento, um mundo
paradoxalmente fechado aos que estão próximo e aberto ao público em geral. Esta
superexposição da vida de forma tão superficial também traz consigo o
descompromisso com o outro -- se um amigo postar uma foto em que aparece
embriagado, eu posso apenas curtir ou dizer “wow”. Mas não tenho o compromisso
do diálogo sério e profundo a respeito das consequências daquela conduta para a
vida dele. Afinal, no modelo individualista, cada um é autossuficiente e não
existe a ideia de comunidade!
De forma alguma sou contra a tecnologia, mas penso que a
moderação em todas as coisas é padrão de saúde. Pais devem, desde cedo,
estimular os filhos a um processo familiar interativo, suplantando seus
cansaços diários e brincando com os filhos, e nesse brincar promover o diálogo.
De igual forma, cônjuges devem aprender a “relaxar” no acolhimento da
intimidade com o outro e não diante da enxurrada de informações vazias dos
eletrônicos. É preciso resistir à sedutora proposta midiática, que nos isola e
egocentriza, aprendendo a usar a tecnologia com sabedoria e prudência,
lembrando que o domínio próprio é fruto do Espírito Santo (Gl 5.22).
Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e
terapeutas de casais e de família.
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