A vida é complexa. Sua complexidade envolve amplitude e
multiplicidade de dimensões. Há muitos caminhos possíveis. Temos competências e
potenciais. Todos temos. Nosso maior desafio é reconhecer o que mais importa
priorizar o que, de fato, tem mais valor. Quando lemos as narrativas de
abertura do livro de Gênesis, que muitos desvalorizam e por isso perdem seus
ensinos, e outros sacralizam tanto que não enxergam seus ensinos, encontramos
princípios transformadores para nossa vida. Princípios que nos ajudam a
priorizar e reconhecer o que de fato importa e tem valor. E nada se iguala, em
valor e importância, às pessoas. Pessoas devem ser nossa mais elevada
prioridade. Quando temos tudo que desejamos em termos materiais, mas não temos
amigos, não temos alguém com quem partilhar. Somos, na verdade, pobres.
Sofremos do pior tipo de pobreza pois somos pobres no que mais importa ser
rico.
Precisamos de pessoas que nos auxiliem e nos correspondam.
No primeiro caso, no auxilio, está envolvida a ideia de participar conosco e
partilhar conosco de uma mesma visão, na busca de um mesmo objetivo. Alguém que
coopere com nosso processo e progresso na vida. Que divida conosco a jornada.
Mas também alguém que nos corresponda, que tenha seus próprios anseios por
auxilio e compartilhamento. Alguém com visão própria e objetivos. Alguém que
aceite cooperação e a deseje. Que busque progresso em seus processos de vida e
com quem nós dividiremos a jornada. Duas pessoas assim, correspondentes, terão
a possibilidade de “enfrentarem-se” e de “apoiarem-se”.
Concordarem e
discordarem, convergirem e divergirem, aproximarem-se e afastarem-se nas circunstâncias
e das formas certas. Tudo isso é possível e necessário com amigos, com
familiares e, especialmente, entre cônjuges. Mas, como pecadores, perdemos o
equilíbrio tão necessário para protagonizarmos relacionamentos assim.
Temos dificuldades relacionais. Vemos muito o cisco no olho
do nosso irmão e muito pouco a pedra em nosso próprio olho. Quando temos
dificuldades relacionais, só vemos o problema no outro. Queremos auxilio, mas
não queremos auxiliar. Queremos auxiliadores, mas não correspondentes. Não nos
olhamos como iguais, especialmente dentro do casamento. Historicamente, homens
veem-se superiores às mulheres e muitos não conseguem perceber a historicidade
da afirmação bíblica sobre essa relação, atribuindo-lhe uma sacralidade obtusa.
Uma sacralidade que não permite reencontrar o princípio ensinado na criação
descrita em Gênesis. A vida seria mais retilínea e controlável se o fim de
nossa existência fosse a natureza e as coisas. Com pessoas a real complexidade
de estarmos vivos e sermos imagem e semelhança do Criador aparecem. Se já
aprendemos a ganhar dinheiro, mas não a amar e respeitar pessoas, a auxiliar e
corresponder, ainda não aprendemos a viver.
Nenhum comentário:
Write comentários