Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e
perguntaram: ‘Quem é o maior no Reino dos céus?’ Chamando uma criança,
colocou-a no meio deles, e disse: ‘Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se
convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus.
Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos
céus.” (Mateus 18.1-4)
O quanto ainda precisamos aprender sobre a vida só aprenderemos
se andarmos com Deus. Andando com Deus reinterpretaremos a vida e viveremos
cada dia de uma nova forma. De uma forma mais livre, de um jeito que Deus será
honrado, para que nosso culto seja nossa vida e não um evento. As vezes
colocamos tantas placas de “proibido” à nossa volta que só nos sentimos
realmente com Deus se estamos num lugar que não nos pareça o mundo – o templo!
Temos tantos conflitos com a vida que nem nos parece ser possível torna-la um
hino. Mas, com todas as lutas e contradições, com todos os perigos e desafios,
por causa do Evangelho, creio que a vida pode sim ser um hino. A
espiritualidade cristã, ensinada e demonstrada por Jesus, não é asceta. Ela
cabe em festas de casamento, na mesa de jantar, nela há confissão e celebração.
Nela somos feitos livres o que, normalmente, demoramos para compreender.
Fomos alcançados por Cristo para sermos livres. Paulo, antes
acostumado às disciplinas do farisaísmo, aprendeu e ensinou sobre isso: “Foi
para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se
deixem submeter novamente a um jugo de escravidão.” (Gl 5.1) O contraste entre
a criança que devemos ser e o adulto que não devemos ser envolve o aprendizado
de sermos livres. Uma liberdade que não se desvirtua em falta de limites e de
bom senso. Uma liberdade regida pelo amor a Deus e às pessoas. Por respeito a
si mesmo. Como respeitar outros sem respeito próprio? Podemos, por causa do
Evangelho, desfrutar a vida e honrar a Deus ao mesmo tempo. O Evangelho não nos
faz perfeitos, mas ensina-nos a lidar corretamente com nossa imperfeição e a
descobrir o poder da Graça! A tentativa de negar nossas fraquezas é o atestado
de que nada sabemos sobre a Graça. Coisas de adultos, de gente que está
precisando tornar-se como criança e conhecer a liberdade dos filhos do Reino.
“Quem é o maior no Reino dos céus?” O Reino dos céus não
reconhece os maiores, apenas os menores. Não reconhece os que sabem exigir,
controlar, mandar e dar ordens. Apenas os servos. Por isso Jesus não encontrou
ninguém melhor para colocar no centro, senão uma criança. O Reino dos céus
questiona nossas motivações, nossas intenções. Nele, performance não convence.
Nele, importa o que fazemos ao próximo muito mais do que o que dizemos sobre
Deus. Ele é tão estranho a nós que, nas palavras de Jesus, há quem pense que
tem direito ao Reino e que não poderá entrar. E quem se reconheça indigno dele,
mas que ouvirá “seja bem-vindo” (Mt 25.31-46). Por isso, tenhamos cuidado.
Peçamos a Deus que nos faça ver a verdade que Ele vê em nós. Que nosso coração
não se eleve. Que a criança que devemos ser supere o adulto que temos sido, mas
que não deveríamos ser, e o Reino dos céus seja nosso lar na terra.
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