Mateus
17.1-9
1 Seis
dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João,
irmão de Tiago, e os levou, em particular, a um alto monte. 2 Ali ele
foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e suas
roupas se tornaram brancas como a luz. 3 Naquele
mesmo momento apareceram diante deles Moisés e Elias,
conversando com Jesus. 4 Então
Pedro disse a Jesus: “Senhor, é bom estarmos aqui.
Se quiseres, farei três tendas: uma para ti, uma para
Moisés e outra para Elias”. 5 Enquanto
ele ainda estava falando, uma nuvem resplandecente os envolveu, e dela
saiu uma voz, que dizia: “Este é o meu Filho amado
em quem me agrado. Ouçam-no!” 6Ouvindo
isso, os discípulos prostraram-se com o rosto em terra e
ficaram aterrorizados. 7 Mas
Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantem-se!
Não tenham medo!” 8 E
erguendo eles os olhos, não viram mais ninguém a
não ser Jesus. 9 Enquanto
desciam do monte, Jesus lhes ordenou: “Não contem
a ninguém o que vocês viram, até que o
Filho do homem tenha sido ressuscitado dos mortos”.
“Ordem
e progresso”
De
onde é a frase “ordem
e progresso”? Acertou que disse: “É
da bandeira do Brasil.”
A
nossa bandeira foi idealizada pelo matemático Raimundo
Teixeira Mendes. Não é dele, porém, o
lema “ordem
e progresso”. Foi
retirado de uma divisa de Auguste Comte: “O
Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por
fim”.
Auguste
Conte era francês. Viveu entre 1798 e 1857. Foi o criador da
filosofia positivista, que deu desdobramento às
Revoluções Francesa e Industrial. Bem ou mau, os
ideais positivistas foram, desde o início, admirados e
defendidos pelos republicanos brasileiros. O que pregava o positivismo?
Resumindo…
Comte
acreditava que era possível planejar o desenvolvimento da
sociedade e do indivíduo com critérios das
ciências exatas e biológicas. Dessa forma, ele
colocava o pensamento científico e lógico acima
de preceitos religiosos e indagações
metafísicas (transcendência, causas primeiras do
ser). Posteriormente, agregou uma cartilha ética e social
para criar uma espécie de antirreligião: a
religião do humanismo.
–
André Valentim (Revista Veja, ed. 2447 – ano 49
– n. 19, 11/05/16, p. 96-97)
Esse
racionalismo científico e positivo caracterizou o mundo
moderno por vários anos. Cria-se, então, na
bondade natural do ser humano e que tudo evoluiria para algo melhor.
Era um tempo de certezas e de sólidas
convicções.
Tudo
foi por terra com a devastação causada pelas duas
guerras mundiais e as suas heranças malditas; i.e.: os
conflitos étnicos, políticos e
econômicos. A era da razão, do positivismo humano
e das certezas científicas absolutas deu lugar a um
espírito cínico, desiludido e desesperado. Nascia
a pós-modernidade.
A
espiritualidade da pós-modernidade
A
civilização ocidental, na
pós-modernidade, buscou refúgio na
espiritualidade. Por quê? Por pelo menos dois motivos.
- Foi a tentativa de se libertar do aprisionamento que a cultura racional e positivista a ela impôs – já que a mesma não conseguia explicar tudo o que estava acontecendo com a humanidade.
- Também porque desistiram de olhar para a vida apenas na perspectiva superficial da ótica científica – que não solucionava os dilemas mais profundos do ser humano.
Pois
bem, esse, a grosso modo, foi o caminho do positivismo ao negativismo;
do racionalismo ao espiritualismo.
Espiritualidade
vazia
Hoje,
o que se vê no Brasil são dois extremos: de um
lado, temos os racionalistas
radicais desesperados (esquerda
brasileira? ateísmo acadêmico?) e, de outro, os espiritualistas
irracionais desorientados (neopentecostais?
ocultistas?).
Todos
buscam uma espiritualidade. Não há um que
não a persiga. Ouça com
atenção e paciência a
descrição bem ponderada do pastor presbiteriano
Ricardo Barbosa (da I.P. do Planalto, em Brasília). Ele
narra o seguinte:
Espiritualidade
é o tema da agenda religiosa do século XXI.
Está presente em todos os encontros, debates e
discussões. Não apenas no universo
evangélico, mas também nos âmbitos
cultural, empresarial, econômico, político, etc.
Todos conversam sobre o assunto, falam de suas experiências,
descrevem seu momento espiritual. Empresas preocupam-se com o estado
espiritual de seus executivos, oferecendo cursos e palestras para
elevar o espírito e melhorar o rendimento profissional.
Livros e revistas especializados no assunto surgem a cada dia.
Entretanto, como afirma Eugene Peterson, quando todos os amigos
começam a conversar sobre colesterol, comparando taxas,
trocando conselhos, sugerindo remédios e chás,
você logo percebe que este é um mau sinal. Alguma
coisa não vai bem. Da mesma forma, quando vemos e ouvimos
muita gente conversando e lendo sobre espiritualidade, isto nos leva a
pensar que a alma de nosso povo não anda bem;
está enferma.
Todos
precisam de espiritualidade, mas não da espiritualidade
vazia que hoje se vê largamente em todas as esferas.
Precisa-se da espiritualidade cristã.
Definições
O
que é espiritualidade? Mais ainda: o que é
espiritualidade cristã? Deixemos Alister E. McGrath,
professor de teologia da Universidade de Oxford, responder. Ele
é catedrático no assunto.
Espiritualidade
| Diz
respeito à busca de uma vida religiosa realizada, envolvendo
a união das ideias distintas daquela religião e
toda a experiência de se viver com base e no âmbito
daquela religião.
Espiritualidade
cristã | Diz
respeito à busca de uma experiência
cristã realizada e autêntica, envolvendo a
união das ideias fundamentais do cristianismo e toda a
experiência de se viver com base e no âmbito da
fé cristã.
Poderíamos
colocar assim: espiritualidade
cristã é uma forma de viver fundamentada nos
critérios da Palavra revelada de Deus e que,
consequentemente, produz frutos que glorificam a Deus e
abençoam as pessoas.
Pois
bem, vamos ao texto que nós lemos no início
– Mateus 17.1-9
A
Transfiguração de Jesus
Em
nossa caminhada pela vida de Pedro, nós chegamos com ele ao
Monte da Transfiguração. Pedro, Tiago e
João estão sozinhos com Jesus no alto de um
monte. Dos três que estavam com o Senhor, só Pedro
fala. Tiago e João não pronunciam qualquer
palavra. Portanto, é mais um daqueles encontros especiais de
Jesus com Pedro, oportunidade para o Santo Escultor talhar no Pedro
mais um pouquinho do caráter de Cristo.
A
espiritualidade cristã
A
lição de hoje é sobre espiritualidade.
Espiritualidade cristã. Tema este que, como já
vimos, é importantíssimo para os dias em que
vivemos.
Sobre
a espiritualidade cristã, a meu ver há
três componentes expressos nesse episódio que
nós não podemos deixar de observar, sob pena de
cultivarmos uma espiritualidade vazia e doentia. Estamos falando da
cara (contornos), dos critérios e das
consequências da espiritualidade cristã (caminhos).
A
cara diz respeito à forma de se manifestar a espiritualidade
cristã. Os critérios são os
fundamentos sobre os quais ela se fundamenta. As
consequências são os frutos que ela produz na vida
do cristão.
Hoje,
veremos a cara da espiritualidade cristã, os seus contornos.
A
cara da espiritualidade cristã
Com
o que se parece a espiritualidade cristã? Qual é
a cara dela?
A
cara da espiritualidade cristã é Cristo. Ela
surge com o crer e a aceitação de Cristo como
salvador e senhor pessoal e a partir disso se desenvolve.
Seis
dias antes do episódio no Monte da
Transfiguração (cf. Mt 17.1), Pedro fez uma
confissão de fé que é essencial para a
espiritualidade. Recordemos o que já vimos algumas semanas
atrás.
Mt
16.15-16 | 15 “E
vocês?”, perguntou ele. “Quem
vocês dizem que eu sou?” 16 Simão
Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo”.
Depois
da confissão de fé, Pedro aprendeu como
é a vida do cristão.
Mt
16.24 | Então
Jesus disse aos seus discípulos: “Se
alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua
cruz e siga.
Ou
seja, o * cristão é
aquele que, tendo confessado a Cristo como salvador, 1 nega
a si mesmo: mortifica as inclinações
do coração; 2 toma
a sua cruz: assume publicamente o cristianismo, apesar da
vergonha e do sofrimento; 3 segue
a Jesus: persevera nos ensinos do seu Mestre e Senhor.
Esse
cristão, portanto, terá a cara de Cristo. A sua
espiritualidade refletirá a glória de cristo.
Nada nele parecerá com ocultismo, animismo, paganismo,
esoterismo, materialismo, ateísmo, espiritismo, catolicismo,
crentismo, etc.
A
espiritualidade do cristão parecerá com Cristo e
ponto final. Como assim?
A
experiência de Jesus no Monte da
Transfiguração nos dá uma dica de como
é na prática a espiritualidade cristã;
qual é a cara dela dentro e fora da igreja.
1.
O cotidiano é espiritual
Mt
17.1-2 | 1 Seis
dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João,
irmão de Tiago, e os levou, em particular, a um alto monte. 2 Ali ele
foi transfigurado diante deles.
Lc
9.37 | No
dia seguinte, quando desceram do monte, uma grande multidão
veio ao encontro dele.
Houve
um antes, um durante e um depois. O que é isso? É
história. O antes, o durante e o depois é
história. O único espaço que temos
para expressar a nossa espiritualidade é na
história; é no ontem que tivemos, no hoje que
estamos tendo e no amanhã que Deus poderá nos dar.
A
espiritualidade cristã é para os dias e horas da
semana. É para ser vivida no curso dos meses e dos anos.
Não é para ser vivida ou expressa nos transes
carismáticos nem nos arrebatamentos lunáticos.
Não é apenas domingueira.
A
espiritualidade é para o antes, o durante e o depois; para o
ontem, para o hoje e para o amanhã; é para as
horas, os dias, os meses e os anos que Deus nos dá;
é para ser vivida na história e não na a-história nem na trans-história.
Outro
fato para se observar é o local. A
Transfiguração aconteceu em “um
alto monte”. Que monte era esse? Mateus 16.13 nos
informa que eles estavam em “Cesaréia
de Filipe”, extremo norte de Israel. O
único “alto
monte”existente naquelas regiões do
país e o mais alto de todos os montes de Israel é
o Hermom, com 2.840 metros de altitude. Porém…
Aquela
seria a pior geografia possível para se praticar a
espiritualidade cristã. Era um lugar pagão,
politicamente hostil e covil de inimigos da fé de Israel. No
entanto, é ali mesmo que o Senhor Jesus se transfigura.
Aprendemos
que a espiritualidade cristã é para ser vivida na
história e apesar de toda e qualquer geografia. O cotidiano
da espiritualidade é o aqui e o agora, independentemente de
onde estivermos. Não é apenas para a igreja (o
local sagrado) e dias santos ou especiais. É para todas as
horas, todos os dias e todos os locais. Em Cristo, todos os dias e
todos os lugares são santificados.
O
cotidiano é espiritual.
2.
O corpo é espiritual
Mt
17.2 | Ali
ele foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e suas
roupas se tornaram brancas como a luz.
Em
Cristo tudo resplandecia: rosto, vestes e corpo. Em Cristo, a
glória de Deus tem cara e tem corpo. A glória de
Deus não se manifesta mais em montes, nuvens ou templos, mas
através dos corpos daqueles que vivem em santidade, em
novidade de vida, em espírito e em verdade. O corpo
é templo. É sagrado.
A
preocupação agora se transfere para a santidade
pessoal. O valor agora é depositado em vidas e
não em lugares. Para o cristão a espiritualidade
se dá no corpo, no corpo da gente e nos corpos dos outros.
Por isso que cuidamos do nosso e amamos o do próximo.
Não defraudamos o corpo de ninguém.
O
corpo é espiritual.
3.
A criação é espiritual
Mt
17.5 | Enquanto
ele ainda estava falando, uma nuvem resplandecente os envolveu,
[…]
Você
observou que a criação apareceu como
adereço da espiritualidade? Sim, pois “uma
nuvem resplandecente os envolveu”! Deus usou uma
das densas nuvens do Hermom para ornamentar aquele momento especial.
O
cristão vive a sua espiritualidade em meio à
criação. Ela adorna a vida espiritual do
cristão. O crente entende que a
criação é para ser cuidada e
desfrutada, pois declara e proclama a glória de Deus. Ele
sabe também que a criação é
para ser preservada e estudada, pois ensina sobre a
providência de Deus.
O
cristão sabe que divino é Deus, o criador. A
criação não é divina. A
natureza não é mãe. A
criação é expressão da
glória de Deus.
A
criação é espiritual.
4.
A cultura é espiritual
Mt
17.5 | […]
suas roupas se tornaram brancas como a luz.
Mc
9.3 | Suas
roupas se tornaram brancas, de um branco resplandecente, como nenhum
lavandeiro no mundo seria capaz de branqueá-las.
O
que nós lemos aqui é que a
produção cultural foi vazada pela espiritualidade
de Jesus Cristo. Roupa é cultura; cultura da
época.
Jesus
não estava descontextualizado, mas as suas vestes foram
transfiguradas, foram vazadas pela espiritualidade. Aprendemos que a
cultura precisa ser santificada por aquele que com ela se veste. O que
vestimos e o que produzimos precisam tornar-se espiritual. Temos que
produzir expressões culturais que refletem a
glória de Cristo. O cristão não teme a
cultura, ele a transforma.
A
cultura é espiritual.
5.
O comportamento é espiritual
Mt
17.3-9 | 3 Naquele
mesmo momento apareceram diante deles Moisés e Elias,
conversando com Jesus. 4 Então
Pedro disse a Jesus: “Senhor, é bom estarmos aqui.
Se quiseres, farei três tendas: uma para ti, uma para
Moisés e outra para Elias”. 5 Enquanto
ele ainda estava falando, uma nuvem resplandecente os envolveu, e dela
saiu uma voz, que dizia: “Este é o meu Filho amado
em quem me agrado. Ouçam-no!” 6 Ouvindo
isso, os discípulos prostraram-se com o rosto em terra e
ficaram aterrorizados. 7 Mas
Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantem-se!
Não tenham medo!” 8 E
erguendo eles os olhos, não viram mais ninguém a
não ser Jesus. 9 Enquanto
desciam do monte, Jesus lhes ordenou: “Não contem
a ninguém o que vocês viram, até que o
Filho do homem tenha sido ressuscitado dos mortos”.
O
cristão não é destemperado (v. 3-6) | “Ouçam-no!”
– Pedro
interrompeu Jesus e Deus interrompeu Pedro. Pobre Pedro! O
apóstolo precisava aprender a hora de falar, a hora de
calar, a hora de ouvir, a hora de esperar. O que aprendemos aqui
é que o nosso comportamento precisa ser espiritual.
O
cristão não vive amedrontado (v. 7) | “Não
tenham medo!” – O
discípulo de Cristo não tem fobia do divino nem
do diabólico. Ele não se acovarda diante de Deus
nem vive com medo ou vendo demônios em toda parte.
O
cristão não se autoglorifica (v. 9) | “Não
contem a ninguém!” – O
discípulo de Cristo não faz marketing da
espiritualidade nem da santidade. Não sente necessidade de a
todos contar que experiência ele teve com Deus.
Não há histeria.
O
comportamento torna-se espiritual: há domínio
próprio, sobriedade, fé, coragem,
discrição e altruísmo.
A
cara da espiritualidade cristã
Hoje
nós vimos os contornos ou a cara da espiritualidade
cristã. Deus permitindo, na semana que vem nós
falaremos dos caminhos dela, abordando os critérios e as
consequências da espiritualidade cristã.
Hoje,
nós paramos por aqui. Ficamos com a cara da espiritualidade
cristã.
Tendo
confessado fé em Cristo e se colocado no caminho do
discipulado, o crente assume a cara da espiritualidade
cristã. Pelo poder do Espírito Santo, ele torna
espiritual o cotidiano, o corpo, a criação, a
cultura e o comportamento.
Em
Cristo, o crente vai se tornando a cara de Cristo. Cristo vive nele.
Paulo resumiu a cara da espiritualidade em um versículo
apenas.
Gl
2.20 | Fui
crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem
vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a
pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
Você
está cansado de não conseguir respostas para as
coisas da existência no racionalismo, no cinismo, no
cientificismo?
Encontra-se
desiludido ou desesperado diante da falta de ordem no mundo?
Desencantou-se com o ser humano?
Está
em busca de desenvolver a espiritualidade?
Qual
é a cara da sua espiritualidade?
A
cara da espiritualidade é Cristo. Ele vivendo na gente.
Nós vivendo pela fé.
Morra
para si mesmo e viva pela fé no filho de Deus, que te amou e
se entregou por você. Arrependa-se, creia e viva pela
fé.
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