60 Pedro
respondeu: “Homem, não sei do que você
está falando!” Falava ele ainda, quando o galo
cantou. 61O
Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro
se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito: “Antes que
o galo cante hoje, você me negará três
vezes”. 62 Saindo
dali, chorou amargamente.
A
vergonha da queda
Cair
é ruim demais! Machuca e envergonha a gente. Há
casos em que, piorando tudo, nossos tombos até fazem
vítimas. Só quem já levou um tombo
clássico sabe o quanto custa.
Algumas
pessoas são mais propensas a cair do que outras. Tem gente
que cai da cama, da cadeira, da escada; cai andando; cai da bicicleta;
etc.
Como
qualquer pré-adolescente da minha
geração, uma das coisas que eu mais gostava de
fazer era andar de bicicleta. A minha era uma Monareta da Monark.
Uma
vez, pedalando em frente ao Colégio São Domingos,
que ficava ali na rua perpendicular à Igreja São
Judas Tadeu, no Setor Coimbra, eu quis fazer gracinha para os alunos
que estavam na porta da escola. Acelerei o pedal. Tirei as
mãos do guidom e levantei os braços. Como
não tinha tanta habilidade assim, perdi o controle, a
bicicleta serpenteou e quando eu me dei conta já estava com
a cara no chão. Com o tombo, ralei joelhos,
braços, cotovelos e rosto. Não houve
vítimas, com exceção do bolso de minha
mãe que precisou pagar pelo conserto da bicicleta.
Além
da dor e do prejuízo, o tombo foi um vexame! Levantei
correndo, peguei a Monareta e dei no pé, ao som dos gritos e
das vaias de deboche.
Os
tipos de tombos
Os
piores tipos de tombos não são os
físicos. Piores são os morais ou espirituais.
Aqueles tombos que nós levamos diante de Deus e dos homens.
Geralmente,
após um tombo, costumamos ficar com uma enorme
indagação na cabeça. Em alguns casos,
a pessoa chega ao precipício do desespero, pensando sobro
como tudo poderia ter sido diferente. Com a cara no chão, a
gente fica se flagelando: Ah
se eu tivesse dito de outra forma… Ah se eu tivesse agido de
outra maneira… Ah se eu tivesse pensado de outro
jeito… Ah se eu tivesse lembrado…
Os
tombos morais ou espirituais costumam ser causados por dois motivos
principais: erros humanos ou desobediência declarada.
Às
vezes, a pessoa, bem-intencionada, age de forma errada e se esborracha.
Por exemplo: li a história de um missionário que
servia como mecânico de aviões. Seu
currículo era de excelentes serviços prestados
às aeronaves de agências missionárias
americanas. Um dia, trabalhando num pequeno avião, enquanto
apertava a porca de um parafuso, ele foi chamado para fazer outra
coisa. Distraiu-se como a nova tarefa e se esqueceu de voltar para
terminar o arrocho da porca com a chave inglesa. Resultado. O
avião decolou com sete passageiros a bordo. A porca solta
permitiu que gasolina vazasse no motor do avião.
Eventualmente, o avião pegou fogo, caiu e matou todos os
sete missionários.
No
funeral, o mecânico se deparou com sete caixões
alinhados no templo da igreja para a realização
do culto fúnebre. A sua consciência o atormentava,
ao ponto de quase destruí-lo. Tudo ficava ainda mais
acentuado por causa do choro das sete viúvas e dos filhos
pequeninos que tinham perdido seus pais. Ondas de arrependimento quase
afogaram aquele mecânico missionário no desespero.
Tudo porque, em um lapso de momento, o seu erro, além de
fazê-lo cair, literalmente derrubou sete outras
famílias.
Nesses
casos, tudo o que se tem a fazer é pedir perdão.
Foi o que aquele mecânico fez e, afortunadamente, todas as
esposas concederam-lhe graça.
Além
dos erros humanos, costumamos cair por causa de
desobediências declaradas. Escolhemos certo estilo de vida,
apesar de reconhecermos que aquela maneira de viver não
é correta. Optamos por determinados caminhos, mesmo quando a
consciência diz que deveríamos caminhar na
direção oposta. Fazemos certas escolhas, ainda
que a Bíblia diga que tais atitudes não
glorificam a Deus. Enfim, apesar de confrontados com a verdade,
insistimos em permanecer no erro. Nesses casos, o tombo é
sempre certo.
Caráter
escultural
Pedro
foi um discípulo que caiu e caiu feio. Deus, no entanto, com
graça e com verdade, o restaurou, levantando-o de seu tombo.
A história da vida de Pedro, de Davi e de todos os outros
heróis da fé ensinam que homens e mulheres com
caráter escultural não são os que
não pecam ou que não caem, pois é
impossível. Caráter escultural é
resultado de contrição do
coração, confissão de pecados e
conversão de caminhos. Veja o que disse o
apóstolo João.
1Jo
1.7-9 | 7 Se,
porém, andarmos na luz, como ele está na luz,
temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu
Filho, nos purifica de todo pecado. 8 Se
afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e
a verdade não está em nós. 9 Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 10 Se
afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um
mentiroso, e a sua palavra não está em
nós.
O
discípulo de Jesus é chamado para andar
à luz da Palavra de Deus. Afinal, ela é
lâmpada que ilumina os nossos passos e luz que clareia o
nosso caminho (Sl 119.5). Cai menos aqueles que andam na luz da Palavra.
Porém,
mesmo andando na luz, nossa natureza contaminada nos inclina para o
erro e para o pecado. Nessas horas, não podemos acobertar os
nossos pecados. Devemos confessá-los em busca de
graça, de perdão e de
restauração.
Dizer
que existe discípulo perfeito é fazer de Deus um
mentiroso, pois todos nós somos pecadores, inclusive os
cristãos. A diferença é que o
caráter do cristão está sendo moldado
pelo Espírito de Deus, à luz da Palavra de Deus e
com a força que vem da graça de Deus em Jesus
Cristo. Como já dissemos, caráter escultural
não é sinônimo de
perfeição; é resultado de
contrição do coração,
confissão de pecados e conversão de caminhos.
A
trilha do tombo
Dito
isto, passemos agora ao tombo de Pedro com duplo objetivo: 1 enxergar
a trilha do tombo ou o caminho que nos leva à queda; e 2 investigar
qual é o caminho que nos leva de volta ao colo de Deus e que
nos mantém em pé.
1.
A trilha do tombo começa no orgulho
Salomão,
sabiamente, afirmou que o
orgulho vem antes da queda (Pv
16.18). No caso de Pedro não foi diferente.
Os
discípulos, inclusive Pedro, pelo caminho com Jesus (vejam
bem!) discutem entre si sobre “qual
deles era considerado o maior” (Lc
22.24). Jesus os repreende, ensinando que no Reino de Deus o maior
não é o que tem mais servos ou é
servido, mas quem mais serve; o grande benefício do Reino de
Deus não é receber o aplauso dos homens, mas
comer na mesa do Rei Jesus (Lc 22.25-30).
Tendo
repreendido os discípulos com a verdade, Jesus exorta a
Pedro sobre a grande batalha que todo cristão
está inserido.
Lc
22.31-32 | 31 “Simão,
Simão, Satanás pediu vocês para
peneirá-los como trigo. 32 Mas eu
orei por você, para que a sua fé não
desfaleça. E quando você se converter,
fortaleça os seus irmãos”.
Pedro,
no entanto, revela o que estava em seu coração:
orgulho, vaidade, presunção; o sentimento de que
ele era o maior de todos e, como tal, não precisava da ajuda
de ninguém, nem da de Deus. Jesus, então, retruca
e diz: “Pedro,
Pedro, esse seu orgulho colocou você na trilha do
tombo!”
Lc
22.33-34 | 33 Mas ele
respondeu: “Estou pronto para ir contigo para a
prisão e para a morte”. 34Respondeu
Jesus: “Eu lhe digo, Pedro, que antes que o galo cante hoje,
três vezes você negará que me
conhece”.
A
trilha do tombo começa no orgulho: o orgulho de pensar que
você e maior e melhor do que os outros; o orgulho de querer
ser reconhecido e ser servido; o orgulho de querer ter
domínio, privilégio, última palavra; o
orgulho de pensar que não precisa da graça de
Deus para viver, conquistar e permanecer.
O
orgulho é algo tão sutil, que quem dele sofre
não percebe a doença.
1Co
10.12 | Aquele,
pois, que pensa estar em pé veja que não caia.
A
trilha do tombo começa no orgulho; no orgulho que cega, que
rouba de nós a sabedoria e que nos coloca no caminho da
destruição vexaminosa.
Pv
28.26 | Quem
confia em si mesmo é insensato, mas quem anda segundo a
sabedoria não corre perigo. Pv
29.23 | O
orgulho do homem o humilha, mas o de espírito humilde
obtém honra.
A
trilha do tombo começa no orgulho.
2.
A trilha do tombo avança pela falta de
oração
O
orgulhoso não costuma orar. Ao orar, ele apenas decreta as
suas vontades. Tiago chama isso de pedir mal; de pedir por motivos
errados; de pedir para gastar nos próprios prazeres (Tg 4.3).
Quem
não ora não vigia e, quem não vigia,
tropeça e cai. Enquanto Jesus orava e se fortalecia em Deus,
Pedro dormia e cultivava tristeza.
Lc
22.39-46 | 39 Como de
costume, Jesus foi para o monte das Oliveiras, e os seus
discípulos o seguiram. 40Chegando
ao lugar, ele lhes disse: “Orem para que vocês
não caiam em tentação”. 41 Ele se
afastou deles a uma pequena distância, ajoelhou-se e
começou a orar: 42 “Pai,
se queres, afasta de mim este cálice; contudo,
não seja feita a minha vontade, mas a tua”. 43 Apareceu-lhe
então um anjo do céu que o fortalecia. 44 Estando
angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como
gotas de sangue que caíam no chão. 45 Quando
se levantou da oração e voltou aos
discípulos, encontrou-os dormindo, dominados pela tristeza. 46 “Por
que estão dormindo?”, perguntou-lhes.
“Levantem-se e orem para que vocês não
caiam em tentação!”
A
trilha do tombo avança pela falta de
oração.
3.
A trilha do tombo segue o rumo da precipitação
A
trilha do tombo começa no orgulho, avança pela
falta de oração e segue o rumo da
precipitação. Observe a atitude de Pedro.
Lc
22.47-51 | 47 Enquanto
ele ainda falava, apareceu uma multidão conduzida por Judas,
um dos Doze. Este se aproximou de Jesus para saudá-lo com um
beijo. 48 Mas
Jesus lhe perguntou: “Judas, com um beijo você
está traindo o Filho do homem?” 49 Ao
verem o que ia acontecer, os que estavam com Jesus lhe disseram:
“Senhor, atacaremos com espadas?” 50 E um
deles feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. 51 Jesus,
porém, respondeu: “Basta!” E tocando na
orelha do homem, ele o curou.
É
verdade que Jesus tinha falado da necessidade de eles levarem consigo
espada (Lc 22.36-38). A arma, porém, não era para
ser usada para matar outro ser humano, mas para, caso
necessário, defender-se de animais ferozes e ou
caçar para ter o que comer. Pedro, porém,
orgulhoso e sem vigiar em oração, precipita-se e
parte para a ignorância.
O
apóstolo quer fazer prevalecer a vontade dele; ele perdeu
sintonia com o coração de Deus; não
confia na soberania de Deus sobre cada detalhe dos acontecimentos.
Então, ele age precipitadamente. Age na carne.
A
trilha do tombo segue o caminho da precipitação.
4.
A trilha do tombo leva para longe da presença de Cristo
Orgulho,
falta de oração,
precipitação… O passo seguinte nesta
trilha é na direção oposta
à presença de Cristo. A trilha do tombo leva para
longe da presença de Cristo.
Lc
22.54 | Então,
prendendo-o, levaram-no para a casa do sumo sacerdote. Pedro os seguia
à distância.
Pedro,
que prometera seguir a Jesus até o fim, o faz, mas o faz do
seu jeito, segue de longe, segue “à
distância”. Gente! O apóstolo
não queria deixar de seguir a Jesus, tanto que ele estava
dentro da casa de Caifás, o sumo sacerdote (os demais
já haviam corrido!). O problema é que Pedro
seguia numa trilha distante da presença de Cristo. Pedro
agora era um mero expectador.
É
mais fácil seguir de longe. Quem segue de longe apazigua a
consciência pelo fato de estar
“seguindo”. É mais fácil
seguir de longe porque de longe eu não pago um
preço tão alto; de longe eu ainda posso ter o
controle da minha vida; de longe eu não preciso prestar
contas a outra pessoa e ainda posso usar a desculpa de que estou no
caminho.
Seguir
de longe é vir aos cultos quando dá ou quando for
conveniente, mas depois sair de fininho; é não se
envolver na vida de outros cristãos; é
não permitir que outros entrem na sua vida de forma
edificante; é consumir sermão sem fazer
aplicação… Seguir de longe
é ser um expectador.
O
problema é que quem segue de longe ou
“à distância” não
sabe, mas está na trilha do tombo.
5.
A trilha do tombo para na roda dos escarnecedores
Pobre
Pedro! Começou no orgulho, faltou
oração, houve precipitação,
seguiu Jesus à distância e, agora, veja onde ele
foi parar: na roda dos escarnecedores.
Lc
22.55 | Mas,
quando acenderam um fogo no meio do pátio e se sentaram ao
redor dele, Pedro sentou-se com eles.
Pedro
passou a estar com os bárbaros zombadores. Sabe o que
é pior? Ele parece não se importar, pois o que
vemos aqui é um Pedro bem acomodado com eles, desfrutando de
uma fogueira quentinha e aconchegante.
A
trilha do tombo para na roda dos escarnecedores.
6.
A trilha do tombo prossegue na direção da mentira
Pedro
agora traz à luz o pecado. Ele foi longe demais na trilha do
tombo. Agora, por causa de onde estava, o apóstolo precisava
viver de mentira.
Lc
22.56-57 | 56 Uma
criada o viu sentado ali à luz do fogo. Olhou fixamente para
ele e disse: “Este homem estava com ele”. 57 Mas ele
negou: “Mulher, não o
conheço”.
Pedro
não quer ser identificado como um dos discípulos,
pois não está disposto a pagar o
preço. Não somente isto, para não
sofrer pelo nome de Cristo, ele tem a necessidade de desconstruir todo
o testemunho que havia construído até aquele
momento. Então, ele relativiza toda a verdade; ele mente e
permanece mentindo (o verbo negar está na forma
contínua) sobre si mesmo.
A
trilha do tombo prossegue na direção da mentira.
7.
A trilha do tombo desemboca no vale da desgraça
Tudo
começou no orgulho, depois avançou para a falta
de oração, seguiu o rumo da
precipitação, caminhou para longe de Cristo,
parou na roda dos escarnecedores, prosseguiu na
direção da mentira e, como não poderia
ser diferente, desembocou na desgraça. O orgulho levou
à desgraça do tombo.
Lc
22.56-60 | 56 Uma
criada o viu sentado ali à luz do fogo. Olhou fixamente para
ele e disse: “Este homem estava com ele”. 57 Mas ele
negou: “Mulher, não o
conheço”. 58 Pouco
depois, um homem o viu e disse: “Você
também é um deles”. “Homem,
não sou!”, respondeu Pedro. 59 Cerca
de uma hora mais tarde, outro afirmou: “Certamente este homem
estava com ele, pois é galileu”. 60 Pedro
respondeu: “Homem, não sei do que você
está falando!” Falava ele ainda, quando o galo
cantou.
Pedro,
finalmente e infelizmente, chega ao ponto de negar o Cristo.
A
trilha do tombo desemboca no vale da desgraça.
O
caminho de volta
Agora,
alto lá! Não se precipite em condenar.
Não dá para ser duro com Pedro porque todos
nós somos como esse apóstolo. Vira e mexe,
tomamos a trilha do tombo. Volta e meia, partimos do orgulho e seguimos
todos os passos da trilha do tombo, até chegarmos ao vale da
desgraça.
Qual
é o caminho de volta?
Se
você caiu ou está na trilha do tombo, desejo
apontar o caminho de volta ao colo de Deus – lugar de onde
nós nunca devemos sair.
O
caminho de volta também serve para aqueles que nunca
experimentaram a maravilha que é viver nos braços
do Pai! Observe.
Lc
22.61-62 | 61 O Senhor voltou-se
e olhou diretamente
para Pedro. Então Pedro se
lembrou da palavra que
o Senhor lhe tinha dito: “Antes que o galo cante hoje,
você me negará três vezes”. 62 Saindo
dali, chorou amargamente.
Qual
é o caminho de volta?
- O caminho de volta começa no olhar gracioso de Deus. Olhar que nos constrange e atrai. Olhar que penetra e revela. Olhar que inspira compaixão. Olhar que nos faz descobrir que Deus não tem prazer na perdição do ímpio. Pode ser que neste momento o olhar gracioso de Deus esteja sobre você. Não endureça o seu coração.
- O caminho de volta segue na lembrança da Palavra de Deus. Assim como Pedro se lembrou da palavra que Cristo lhe tinha dito, nós precisamos da Palavra no coração. A fé vem e se mantém por se ouvir a Palavra de Deus (Rm 10.17). Receba esta palavra hoje e agora. Beba dela e viva por ela.
- O caminho de volta nos faz sair de onde estamos. O caminho de volta nos leva ao arrependimento, nos faz rasgar o coração, nos faz chorar pelo pecado, nos faz sair do vale da desgraça.
A
minha oração por você é que
o olhar da graça de Deus te alcance; que a Palavra da cruz
te penetre; que o Espírito te leve ao arrependimento e o
faça sair do vale da desgraça. Saia da trilha do
tombo. Siga pelo caminho da cruz.
Pr. Leandro Peixoto
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