Texto Básico: Colossenses 3.16
Introdução
A marca mais evidente de nossa época é o individualismo. Na
verdade, o individualismo está presente em nossa sociedade desde a proposta
feita a Adão e Eva pela serpente astuta: “É assim que Deus disse: Não comereis
der toda árvore do jardim? (…) É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que
no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis
conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.1-5).
A Bíblia, no entanto, ensina que os dois principais
mandamentos são: amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós
mesmos. Mas, se não amamos a Deus, como poderemos amar ao próximo? Se
desconsiderarmos que Deus atua eficazmente em nossa vida, como poderemos
imaginar que o próximo poderá nos ser útil em uma vida em sociedade? A
tendência, portanto, é viver juntos – mesmo assim, as redes sociais, os
edifícios de luxo e outras modernidades afastam uns dos outros – mas totalmente
separados. O que interessa para Deus é a proximidade de propósito e a unidade
de vida.
Quantas vezes você já foi capaz de dizer “eu preciso de
você!”. Qual foi a última vez que você disse isso para sua esposa, seu esposo,
seus filhos, um irmão ou uma irmã na igreja? A quem você recorre nos momentos
em que precisa de consolo?
Deus determinou que cuidássemos uns dos outros. Vemos,
amplamente, por toda a Bíblia, instruções acerca do cuidado mútuo. Nesta lição,
examinaremos como o Espírito Santo nos habilita a cuidar uns dos outros, e como
devemos praticar isso, visando despertar em nós a necessidade de proximidade e
comunhão.
I. Necessitamos uns dos outros
Pelo que lemos nas Escrituras, a soberba é um pecado odioso
para Deus, o qual tem consequências desastrosas (Rm 1.28). O orgulho, a
vaidade, a autossuficiência, todos derivados de um coração soberbo, são
desastrosos, porque impedem, dentre outras coisas, que busquemos ajuda tanto em
Deus quanto nas pessoas ao nosso redor. Nós nos consideramos tão
autossuficientes, que não vemos no outro um ponto de apoio e refúgio nos
momentos de necessidade. Elevamos o “eu” como detentor de razões e soluções.
Tornamo-nos individualistas. Achamos que podemos sempre resolver nossos
problemas com nossos próprios meios, como se fosse possível renunciar a ajuda
das pessoas que estão ao nosso redor.
Por outro lado, nós nos recusamos a oferecer ajuda àqueles
que estão sofrendo. Muitas vezes, passamos ao largo, como as personagens da
Parábola do Bom Samaritano, que evitaram “se contaminar” com aquele homem caído
na estrada (Lc 10.25-37, especialmente os v. 31 e 32). Há muitas pessoas
“caídas” por aí e nós, tantas vezes, não nos ocupamos delas, preferindo, tantas
outras vezes, julgá-las temerariamente.
A Palavra do Senhor nos ensina que a vida cristã não pode
ser vivida isoladamente (Hb 10.25), pois somos uma família (Ef 2.19), escolhida
antes da fundação do mundo (Ef 1.4) para viver em comunhão uns com os outros
(At 2.42-47), com alegria e devoção e, especialmente, cuidando uns dos outros,
pastoreando, aconselhando, admoestando e orando (Cl 3.16-17; Tg 5.16). A vida
cristã precisa ser fundamentada no “eu preciso de você”. Devemos declarar uns
aos outros a nossa incapacidade de lidar com os problemas, e reconhecer que
somos devedores uns aos outros do amor com que somos amados pelo Senhor.
II. A ação do Espírito Santo em nós
Para nos tornarmos membros uns dos outros, carecemos da ação
do Espírito Santo em nossa vida. Ninguém pode oferecer o que não possui.
Portanto, somente aqueles que têm o fruto do Espírito podem oferecê-lo
satisfatoriamente às demais pessoas.
Aprendemos que o fruto do Espírito é: “… amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl
5.22). Nesse contexto, Paulo afirma que “se vivemos no Espírito, andemos também
no Espírito” (Gl 5.25). Ou seja: os verdadeiros cristãos são preenchidos pela
ação do Espírito Santo de Deus e isto os habilita a propagar a verdadeira
comunhão de uns para com os outros. Tendo o fruto do Espírito operante não nos
deixaremos “possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns
dos outros” (Gl 5.26).
O Espírito Santo faz com que nos tornemos amigos uns dos
outros, e próximos, a ponto de se alegrar com os que se alegram e chorar com os
que choram (ver Rm 12.9-21). Peter Beyerhaus afirmou:
“A obra do Espírito Santo é tão corporativa como individual.
Ele constrói a vida da igreja estabelecendo o elo místico entre Cristo, a
cabeça, e a igreja, seu corpo. Mediante essa obra, a presença real do Senhor é
sentida na adoração da congregação. Ele equipa a igreja para sua missão por
meio de ministérios e serviços vocacionais. Como aquele que convence, ele abre
o caminho para o mundo descrente. Os charismata, ou seja, dons espirituais
complementares, unem todos os cristãos como membros de um só corpo para o
serviço mútuo (1Co 12)” (Peter Beyerhaus, Dicionário de ética cristã, Carl
Henry (org.), Editora Cultura Cristã).
De que modo o Espírito Santo, agindo em nós e guiando os
anjos do Senhor, nos ensina?
A. Guiando para o ministério
Na experiência de Felipe com o eunuco, vemos o Espírito do
Senhor, um anjo, guiar seu servo para o cuidado do outro: “Dispõe-te e vai para
o lado do Sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto”
(At 8.26). O Espírito do Senhor conduz seus servos para o exercício da obra.
Devemos entender essa fala como uma comunicação natural entre o Espírito Santo
do Senhor e os cristãos. É claro que não se tratam de “novas revelações”, mas
da interação espiritual entre nós e Deus, fruto da providência do Senhor em
guiar-nos. É a maneira “mui santa, sábia e poderosa de [Deus] preservar e
governar todas as suas criaturas e todas as suas ações, para a sua própria
glória” (Catecismo Maior de Westminster, pergunta 18).
B. Provendo para a vida
O Espírito Santo do Senhor provê o sustento para os crentes.
Muitas vezes, sem sabermos, Deus está suprindo nossas necessidades mais
profundas. Isso enquanto sofremos e imaginamos que o Senhor não se importa
conosco. Costumamos pensar que Deus tem prioridades maiores do que cuidar de
nós. Mas não é assim. Ele é Deus. Nem o tempo, nem o espaço o limitam; ele pode
ouvir todas as orações ao mesmo tempo e dá atenção a todos, sem necessidade de
filas ou senhas. O Espírito Santo do Senhor provê nosso sustento e segurança, mesmo
quando dormimos: “…aos seus amados ele o dá enquanto dormem” (Sl 127.2). O
Espírito também provê para que possamos prover para aos outros: “Não
negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram
anjos” (Hb 13.2).
C. Protegendo de todas as coisas
Há vários exemplos na Bíblia em que Deus, por meio de seu
Espírito e dos anjos do Senhor, protege seus servos. Um dos casos mais
marcantes é o de Daniel e seus amigos, conforme narrado em Daniel 3.28: “Falou
Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego,
que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois não
quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo, a servirem
e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus”. Podemos nos lembrar de
Paulo, e das tantas vezes que o Senhor livrou o apóstolo: naufrágios, picada de
víbora, perseguição, etc. Deus tem um propósito sublime em nossa vida e, mesmo
quando não percebemos, Deus está nos protegendo de todo mal.
D. Servindo-nos em tudo de que necessitamos
A Bíblia afirma que “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos
que o temem e os livra” (Sl 34.7). Aqueles que confiam no Senhor sabem que Deus
destina seu santo Espírito para cuidar deles, consolando-os, amparando-os e
servindo-os. Quando Jesus Cristo contou aos seus discípulos sobre seu retorno
ao Céu, ele disse: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim
de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode
receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita
convosco e estará em vós” (Jo 14.16-17). Observe os detalhes do texto: (1)
Jesus afirma: “ele [o Pai] vos dará”, o Espírito Santo pertence a nós. Ele está
conosco por determinação de Deus Pai, a fim de que não fiquemos sozinhos e
desamparados; (2) “outro Consolador”, Cristo é nosso Consolador e, ainda assim,
Deus, o Pai, nos dará outro, o Espírito Santo, que nos guiará à verdade; (3)
“esteja para sempre convosco”, não há nenhum momento em nossa vida em que o
Espírito Consolador não esteja presente. (4) “porque ele habita convosco e
estará em vós”, duas dimensões: “habita conosco”, ele mora onde estamos,
permanece junto de nós, e “está em nós”, porque atua dentro, em nosso interior,
onde somente o Espírito pode entrar (cf. Sl 139.23-24).
Se os anjos do Senhor e o Espírito Santo de Cristo agem em
nós e nos ensinam, devemos repetir suas ações e, desse modo, abençoar nossos
irmãos e irmãs em Cristo. Vejamos que atitudes podemos ter para com nossos irmãos
em Cristo, utilizando nossos dons. Os
principais dons que devemos usar como cristãos são:
1. Profecia (Rm 12.6; 1Co 14.3), capacidade de pregar ou
proclamar a verdade de Deus a outros, para edificação, exortação e encorajamento.
2. Ensino (Rm 12.7), capacidade de ensinar as verdades da
Palavra de Deus.
3. Fé (1Co 12.9), capacidade de confiar em Deus, sem dúvida
ou inquietação, a despeito das circunstâncias. Aqueles que são especialmente
inclinados a sentir ansiedade devem procurar pessoas que têm aplicado esse dom
e seguir o exemplo delas.
4. Sabedoria (1Co 12.8), capacidade de aplicar a verdade
espiritual à vida. Crentes dotados de sabedoria são, também, bons modelos para
as pessoas ansiosas.
5. Conhecimento(1Co 12.8), capacidade de compreender os
fatos. É o lado intelectual do entendimento da verdade bíblica.
6. Discernimento (1Co 12.10), capacidade de distinguir a
verdade do erro – para discernir o que é de Deus e o que é ardil satânico.
7. Misericórdia (Rm 12.8), capacidade de manifestar o amor
de Cristo em atos de benevolência.
8. Exortação (Rm 12.8), capacidade de encorajar, aconselhar
e confortar os outros com verdade bíblica e amor cristão. Os que são inclinados
à ansiedade precisam ter humildade suficiente para ouvir e valorizar o que as
pessoas com o dom da exaltação têm a dizer.
9. Doação (Rm 12.8), capacidade de prover para a obra do
Senhor e para outros que têm dificuldade de suprir as próprias necessidades
materiais. Isso deriva do propósito de confiar suas posses materiais ao Senhor.
10. Administração (Rm 12.8; 1Co 12.28), capacidade de
organizar e liderar com empenho espiritual. É um dom chamado de”dom de comandar
ou governar”.
11. Ajuda (Rm 12.7; 1Co 12.28), capacidade de servir
fielmente “por trás das cortinas”, dando assistência à obra do ministério de
forma prática.
Todos esses dons só fazem sentido se forem aplicados
individualmente no corpo de Cristo, a igreja. Paulo afirma, enfaticamente, que
os dons existem para que o corpo de Cristo seja aperfeiçoado, edificado e
cresça (Ef 4.11-13).
Abraham Kuyper escreveu: “A Igreja de Cristo é um corpo e,
como os membros crescem a partir de um corpo, e não são acrescentados a ele,
vindos de fora, também a semente da igreja deve ser procurada nesta, e não no
mundo (…) O próprio Espírito Santo é um dom da graça, mas quando ele concede
dons espirituais, ele nos adorna com ornamentos santos (…) os dons são
operações adicionais da graça (…) a ação da graça é para nossa própria
salvação, alegria e edificação; os dons nos são dados para os outros”.
Algumas atitudes que são
apontadas na Bíblia e que devem fazer parte de nosso dia a dia na igreja:
1. Confessarmos nossos pecados uns aos outros (Tg 5.16).
2. Edificarmos uns aos outros (1Ts 5.11; Rm 14.19).
3. Levarmos as cargas uns dos outros (Gl 6.2).
4. Orarmos uns pelos outros (Tg 5.16).
5. Sermos benevolentes uns para com os outros (Ef 4.32).
6. Sujeitarmo-nos uns aos outros (Ef 5.21).
7. Sermos hospitaleiros uns com os outros (1Pe 4.9).
8. Servirmos uns aos outros (Gl 5.13; 1Pe 4.10).
9. Consolarmos uns aos outros (1Ts 4.18; 5.11).
10. Corrigirmos uns aos outros (Gl 6.1).
11. Perdoarmos uns aos outros (2Co 2.7; Ef 4.32; Cl 3.13).
12. Admoestarmos uns aos outros (Rm 15.14; Cl 3.16).
13. Instruirmos uns aos outros (Cl 3.16).
14. Exortarmos uns aos outros (Hb 3.13; 10.25).
15. Amar uns aos outros (Rm 13.8; 1Ts 3.12; 4.9; 1Pe 1.22;
1Jo 3.11,23;4.7,11).
Devemos desenvolver nosso ministério, sempre tendo em vista
o corpo de Cristo. Devemos estar atentos e ajudar o outro em sua tribulação.
Não devemos ser individualistas nem egoístas, olhando apenas nosso próprio
umbigo. O crente olha para afrente, adiante, pensando nas pessoas ao seu redor,
copiando o exemplo sublime de Cristo, que deu sua própria vida em favor de seus
amigos.
Conclusão
O Espírito Santo do Senhor está conosco sempre, ele nos
guia, provê tudo de que necessitamos na vida, nos proteges e nos serve dia após
dia. O Espírito Santo do Senhor nos ensina a cuidar também de nossos irmãos e
irmãs em Cristo. Ele nos dá vida e nos encoraja a andar uns com os outros,
suportando uns aos outros, em amor. Se quisermos alcançar o sucesso em nossos
relacionamentos, se quisermos nos tornar melhores em nossa vida em comunidade,
precisamos prestar atenção no Espírito agindo em nós e agir conforme sua
instrução.
Aplicação
Liste algumas atitudes que você pode ter em sua igreja.
Pense em áreas da igreja que estejam carentes e nas quais você possa colaborar,
usando seus dons. Reúna-se com seus colegas de classe e discuta com eles o que
vocês podem fazer efetivamente pela igreja, para demonstrar que o Espírito
Santo age em vocês e, pela ação do Espírito, vocês também podem agir pela
igreja. Depois, comuniquem ao pastor a decisão do grupo e peçam o auxílio dele.
*Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – Vencendo a Ansiedade.
Usado com permissão.
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